Deus e esporte: uma receita contra as drogas

Uma história marcada por vícios, decadência, apoio familiar, Deus, esporte e mudança de rumo. A vida do cabeleireiro Hoslany Fernandes Pessoa, de 27 anos, é emblemática em relação aos efeitos maléficos das drogas e uma prova de que é possível vencê-los. Experimentou entorpecentes ainda em Juiz de Fora, mas foi em São Paulo, onde tinha uma carreira bem sucedida, que chegou ao fundo do poço. No contato com o crack, virou dependente químico e foi morar nas ruas, debaixo de pontes e viadutos. Frequentou a cracolândia. Pesando 54 quilos, sua família o convenceu a retornar a Juiz de Fora. Começava o longo processo de recuperação que partiu de uma opção: entre a vida e a morte, ele escolheu viver. E o esporte foi determinante neste sentido.

Fôlego de criança

Na piscina do Clube Bom Pastor, Hoslany treina Natação sob o forte sol de 12h30. Junto com ele estão os integrantes da equipe Vidativa. Suas braçadas revelam vigor. Quem passa pela borda da piscina e não o conhece, jamais imaginaria a situação em que se encontrava três anos antes. Na disputa de revezamento feita entre os amigos, Hoslany ajuda sua equipe a chegar a vitória: uma tigela de açaí estava em jogo. Pouco depois de sair da piscina e ainda ofegante pelo esforço, ele conversa com a equipe do Portal Toque de Bola sob a sombra de um coqueiro. Ele agora é um atleta, ou melhor, um triatleta, que se prepara para participar da primeira prova.

Para enfrentar as drogas, o cabeleireiro pulou de cabeça no esporte

Aos nove anos, teve o primeiro contato com álcool. Aos 12, com cigarro e maconha. Estudou, fez curso técnico e estágio. Mas, pouco a pouco, ele ficava cada vez mais dependente das drogas: cola, cocaína… Com 17 anos, buscou a liberdade de uma cidade grande. Foi para São Paulo, onde teve o primeiro contato com o crack, uma experiência que duraria sete anos, os quatro primeiros deles conseguindo conciliar o vício com a vida profissional. “Nos últimos três anos de São Paulo, comecei a perder tudo que eu tinha, não só meu eu, minha vida, como os bens que eu tinha adquirido com o meu trabalho. Foi quando a minha família me buscou, com 54 quilos e aparência cadavérica, sem ética, sem fé, sem Deus, sem amor”, relembra.

Como num jogo contra um adversário implacável, nem tudo foi mil maravilhas em Juiz de Fora. Dois meses depois do retorno, já trabalhando, as lembranças de São Paulo começavam e se materializar na sua terra natal. “Foi quando eu pedi ajuda e fui me internar. Fiquei um ano em processo de recuperação na Fazenda da Esperança, em Guarará. Depois desse período, eu saí e pude perceber que teria que fazer uma escolha: viver ou morrer. Eu escolhi a vida, uma vida que Deus me deu. Um Deus que é amor e que supera todas as religiões. Um Deus que está junto com quem decide fazer o bem, ser uma pessoa do bem”, expõe Hoslany.

O esporte entra em cena

Foi nesta fase que o cabeleireiro encontrou outro forte aliado para vencer a batalha contra as drogas: o esporte. “Foi a melhor maneira que encontrei para me disciplinar. O Triathlon me exige horário, me exige regra, controle do meu corpo, sono. Precisei fazer uma escolha pelo dia, e não pela noite. O esporte para mim é a segunda coisa mais importante na vida de um homem, abaixo apenas da espiritualidade. Me ajudou tanto que eu acredito que pode ajudar também muita gente no Brasil e no mundo. Te mostra que você é capaz. Como eu perdi meus valores na droga, quando eu completo uma corrida, um treino, eu vejo em mim a capacidade de completar alguma coisa. Ao correr uma rústica, fazer um Duathlon, eu consigo ver valores que foram desacreditados por mim e pela sociedade, que na maioria das vezes isola a pessoa que está na dependência química”.

Toda vez que completa uma corrida rústica, Hoslany (ao centro) redescobre valores que tinha perdido com as drogas

É possível mudar de vida

Hoslany não tem medo de afirmar que pessoas que passam pelas situações que ele viveu podem dar novo sentido à vida. Lembra que fumou crack durante sete anos e que sofreu muito neste período, mas, quando passou a acreditar em uma vida nova, encontrou o caminho que o levaria a ela. “Tem uma frase que eu gosto de usar: ‘as palavras não explicam o sofrimento’. Muitas vezes eu sofri na minha vida. Mas se você acreditar, é capaz. Usei drogas por 13 anos e hoje treino Triathlon. As pessoas não acreditam, mas é possível. É preciso crer em Deus, se apegar ao esporte e ter um ritmo de treino bacana”, receita.

Para ajudar aqueles que estão buscando superar o problema, Hoslany e os integrantes da Vidativa desenvolvem o projeto “Vida Limpa”. “Quem está nesta situação e quiser começar a treinar, basta procurar a gente. Juiz de Fora é uma cidade muito bonita, com um manancial de atletas e cultura esportiva.. Está na hora de mudar um pouco a vida da cidade e das pessoas que estão no vício das drogas. Os treinos são as segundas, quartas e sextas na Praça do Bom Pastor e não têm como objetivo formar um grupo separado. É juntar essas pessoas à família Vidativa. Para ser saudável, ser feliz, ser livre de fato”. Informações pelo telefone (32) 3236-2759.

Planos para o futuro

E o futuro? “Tenho planejado viver cada momento. Almejo para mim ser um homem de bem, continuar nesta caminhada com Deus, deixar de fazer minha família sofrer, o que eu fiz tantas vezes, ser uma pessoa boa. Ser honesto. O meu projeto maior é ser fiel a Deus e trazer cada vez mais gente para esse lado de luz da vida”.

Ao final da conversa com o Toque de Bola, Hoslany contou, discretamente, que quer ser “um triatleta de verdade”. Sua estreia já tem data e local marcado: será no X-Terra Camp Juiz de Fora.

Texto: Thiago Stephan

Este post tem 3 comentários

  1. Luiz Fernando Braz

    Estou muito orgulhoso desse meu amigo, homem de garra, homem de Deus que nos da coragem para nao desistir e de ver que é possível uma vida nova.
    Um sinal vivo de Esperanca.
    Te amo irmao

  2. Josy

    Meu grande Orgulho. Te amo
    Josy

  3. Gedair Reis

    Parabéns Hoslany e Toque de Bola pela matéria.
    Vamos compartilhar, a vitória desta família!

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