A imprensa esportiva juiz-forana, depois de quase dois anos, voltou a se reunir em Santa Terezinha.
Mas, não era um treino ou jogo do Tupi no Estádio Salles Oliveira. O encontro foi na 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, para a coletiva da delegada Ione Barbosa. Ela é titular do inquérito que apura denúncias de atletas e parentes enganados na realização de peneiras do clube em parceria com o Grupo Multisports.
Os resultados da Operação Tupi: Jogando Limpo, realizada nesta segunda, dia 13, foram apreensões de documentos e dois computadores na sede social do clube. Já na casa do presidente José Luiz Mauler Júnior, o Juninho, a Polícia Civil apreendeu um celular e três armas – duas espingardas e um revólver.
A prisão
Por conta de não ter documentação para posse das armas, Juninho foi preso em flagrante. Conduzido à delegacia, prestou depoimento até o meio da tarde, quando a delegada arbitrou sua fiança em R$ 50 mil.
“Ratificamos a prisão em flagrante, pois já foi detectada pela perícia a eficiência dessas armas. Segundo ele (Juninho), já tinha (as armas) há um bom tempo. Não tinha documentação. É um crime passível de fiança, e arbitrei a mesma em R$ 50 mil. Mas, mesmo liberado, vai responder pelo crime”, explicou Ione.
Em conversa com jornalistas Juninho admitiu a propriedade das armas. No início da noite, com o não pagamento da fiança, o presidente do Tupi foi encaminhado ao Centro de Remanejamento Provisório (Ceresp).
Preventiva
A delegada Ione Barbosa também adiantou que a prisão preventiva de Juninho também pode ser pedida. Isso dependerá da análise do material apreendido pela Polícia Civil nesta segunda. A titular da investigação também deverá pedir uma reanálise do afastamento do presidente do Tupi pela Justiça.
“Está quebrado o sigilo de dados do que foi apreendido por nós. Apreendemos um celular, do presidente; dois computadores e vasta documentação. Vamos avaliar e, nada impede, se houver indícios ou alguma suspeição de que a soltura dele possa comprometer as investigações, podemos pedir a prisão preventiva dele”, explica.
Ione afirma que há indícios de estelionato e má administração no Tupi. “Foram várias denúncias no sentido de que as peneiras eram realizadas, com jovens do Brasil inteiro, no Tupi que é um clube centenário, e estes depositaram valores sem terem, até este momento, sido ressarcidos. Há indícios veementes de estelionato. No decorrer das investigações, tivemos revelações de testemunhas veladas – que não querem se revela por temem por suas integridades físicas – denunciando má administração à frente do clube.”
Acordo descumprido
Segundo a delegada, o ex-vice-presidente financeiro do Tupi, Tiago Conte, e o ex-supervisor da base, Luigi Firmiano, descupriram acordo firmado com a própria titular da investigação. “São inúmeras vítimas. Quem ficou de trazer todos os nomes, os valores foi o vice-presidente (Tiago). Fizemos, na delegacia, um acordo entre ele e o Luigi, que eles iriam fazer a restituição o mais breve possível. Estabelecemos um prazo, este expirou, e eles não ressarciram.”
“Estamos investigando também até que ponto o presidente tinha condições de saber o que estava ocorrendo. Uma vez que o Tiago era vice-presidente financeiro do Tupi. Responsável por toda parte financeira. Também estamos investigando a venda de um terreno em Santa Terezinha. Há suspeitas de irregularidades”, revelou Ione.
Permuta na mira
A delegada se refere à permuta do Estádio Salles Oliveira, em Santa Terezinha, com a Construtora Rezende Roriz. Também patrocinadora o clube e que, por acordo, vem ajudando o Carijó a sanear sua dívida, a empresa teria feito aportes em contas pessoais do presidente.
“Parece que existe uma situação complexa nesse terreno. Muitas vezes os valores repassados não são em nome do Tupi. Mas o cheque, referente à compra, era depositado em conta pessoal o presidente. Pelo menos duas contas. Então vamos aprofundar nisso. Vamos pedir um tempo maior aos magistrado para nos aprofundar. O que queremos é a elucidar tudo”, deseja a titular do caso.
Contas pessoais
Ainda na conversa com os jornalistas, Juninho admitiu que usou contas pessoais para receber dinheiro do Tupi. Mas, que todo o montante depositado foi destinado ao clube, principalmente para a manutenção a equipe de futebol profissional. Segundo o presidente, o expediente é usado para que o Tupi evite penhora dos valores a serem depositados em suas contas.
Para tentar elucidar a questão, o presidente o Conselho Deliberativo do Tupi, Jarbas Cruz, será ouvido novamente nesta terça, dia 14, no início da tarde. A delegada quer deixar claro alguns novos pontos. “Já temos alguns elementos que carecem de explicação. Como exemplo: por que as transferências de valores não foram feitas na forma correta?”
Segundo Ione, a questão no Tupi é criminal. “Já passou da questão administrativa. Todos tiveram chance de se explicar e de ressarcir quem devem. Isso é o mínimo. Não podemos deixar que pessoas que não se identifiquem com o clube se aproveitem dele. O Tupi está em uma situação complicada, mas não se admite que pessoas mal intencionadas se utilizem desta condição para se locupletarem. Isso é crime!”
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: Toque de Bola