O início do Campeonato Brasileiro de 2020 foi marcado por uma grande confusão no Estádio da Serrinha, em Goiânia. Horas antes do confronto entre Goiás e São Paulo, que ocorreria às 16h de domingo, dia 9, o esmeraldino confirmou que os resultados divulgados na manhã do mesmo domingo acusaram dez casos positivos para o novo coronavírus entre os 26 jogadores do elenco.
Após movimentações intensas nos bastidores, o jogo acabou cancelado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O São Paulo, que embarcou para Goiânia com 40 pessoas na delegação sem nenhum caso positivo, chegou a entrar em campo, mas foi avisado pela equipe de arbitragem de que não haveria jogo.
Problema nos testes
O Goiás informou, através de nota, que houve problemas na realização do primeiro teste, feito na quinta, dia 13. Segundo a diretoria esmeraldina, nesta data o clube recebeu o laboratório do hospital Albert Einstein, mas em seguida teve de repetir o procedimento por uma falha de acondicionamento do material.
De acordo com a agremiação goiana, a própria CBF pediu para invalidar o teste com alegação de que o laboratório escolhido “falhou no acondicionamento das amostras”. Os testes foram refeitos na sexta, dia 14, mas os resultados foram entregues somente às 8h30 do dia do jogo.
Veja o que diz o Goiás:
“Os exames feitos pela CBF nos 23 convocados para o jogo, na quinta-feira, foram invalidados pela própria CBF, alegando que o laboratório escolhido por eles em Goiânia para fazer a coleta falhou no acondicionamento das amostras. A CBF pediu para refazer os testes na sexta-feira. Depois da coleta de sexta-feira, a CBF, que precisava entregar os resultados até 24h antes da partida, não apresentou os resultados ao Goiás. Os resultados foram entregues às 8h30 deste domingo. Resultado: 10 contaminados na equipe de 26 testes realizados e concentrados para a partida.”.
Veja o que diz o São Paulo:
“O São Paulo manifesta apoio e informa que está de acordo com a decisão de adiamento do jogo deste domingo, em Goiânia. Não há nada mais importante, neste momento, do que preservar a saúde e refletir à sociedade a importância dos cuidados”.
O hospital
Em nota, o hospital Albert Einstein, parceiro da CBF na realização dos testes, confirmou que houve falha técnica na coleta das amostras da equipe do Goiás. Veja abaixo o comunicado do hospital:
“O Hospital Israelita Albert Einstein identificou uma falha técnica na coleta das amostras, feita em um laboratório parceiro em Goiás, para realização de teste RT-PCR em atletas e equipes do Goiás. Solicitou, portanto, novas amostras antes do processamento dos exames. Elas foram refeitas e encaminhadas para análise no laboratório do hospital em São Paulo, sem nenhum prejuízo aos prazos estabelecidos para apresentação dos resultados”.
Contra o tempo
Assim que soube do resultado dos testes, a diretoria do Goiás correu contra o tempo para realizar novos exames em todos os jogadores. Inicialmente, o Goiás queria entrar em campo desde que o técnico Ney Franco pudesse relacionar um mínimo considerável de jogadores.
No entanto, sem os novos resultados e sem uma posição da CBF, o departamento jurídico do Verdão entrou com ação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) pedindo o adiamento da partida.
Nos tribunais
Sem uma previsão otimista, chegou a convocar jogadores. Em entrevista ao canal oficial do clube, o presidente Marcelo Almeida lamentou o ocorrido.
“Infelizmente, fomos comunicados apenas no dia de hoje. Preferimos agir com coerência. Qual coerência? Pedir que o jogo fosse adiado. Entramos com uma liminar no STJD com essas alegações porque esportivamente seria uma coisa descabida. Teríamos 13 jogadores em campo, 11 titulares e dois reservas. Por questões de segurança e saúde também. Como os jogadores estavam concentrados, não sabemos dizer se os outros podem estar contaminados”, afirmou Almeida.
Os infectados
O atacante Rafael Moura fez uma postagem em rede social nesta segunda, dia 10, e revelou a identidade dos jogadores do Goiás que testaram positivo para Covid-19.
De acordo com o centroavante, que ainda no domingo já havia confirmado que estava com coronavírus, os outros oito jogadores são: Sandro, Tadeu, David Duarte, Lucão do Break, Ratinho, Keko, Jefferson e Gilberto, sendo este reincidente para a doença.
O zagueiro Fábio Sanches testou positivo no primeiro exame, recebido pelo Goiás na manhã de domingo, mas depois testou negativo na contraprova, realizada por opção do clube junto a um laboratório particular e não vinculado à CBF.
Por conta dessa divergência, o número de 10 casos depois foi atualizado para nove. Todos esses jogadores estão isolados e, automaticamente, fora do jogo contra o Athletico-PR, quarta, dia 12, em Curitiba. O clube também decidiu fretar um voo, mas só embarca para o Paraná se tiver o resultado dos exames em mãos, o que está previsto para a manhã de terça, dia 11.
A tendência é que o Goiás vá a campo com escalação semelhante à divulgada momentos antes do adiamento do jogo contra o São Paulo: Marcelo Rangel; Yago Rocha, Luiz Gustavo, Heron e Rodrigues; Breno, Daniel Bessa e Thalles; Vinícius Lopes, Douglas Baggio e Victor Andrade, desde que esses atletas não testem positivo até o momento do embarque.
Daniel Alves nas redes
O experiente lateral do tricolor paulista criticou a maneira como foi conduzido o caso e foi rebatido por Rafael Moura. Confira, abaixo, a troca de mensagens e a postagem do He-Man sobre os infectados:
Alteração no protocolo
Diante dos problemas ocorridos, a CBF divulgou, na noite desta segunda, dia 10, algumas mudanças no protocolo inicial. Confira a nota da entidade máxima do futebol brasileiro:
“Objetivando aperfeiçoar o sistema de testes para Covid-19 de jogadores nas competições nacionais, a fim de oferecer maior segurança aos clubes e atletas nelas envolvidos, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informa que realizou os seguintes ajustes nos procedimentos previstos no protocolo médico e na diretriz operacional:
A) A testagem será ampliada. TODOS os jogadores dos elencos dos clubes, inscritos na competição correspondente, serão testados a cada rodada, com 72 horas de antecedência a cada partida, independente de estarem ou não relacionados para o jogo. A medida é válida para as partidas a serem realizadas a partir da próxima sexta-feira, 14, visto que, para os jogos previstos até esta data os procedimentos já estão em curso.
B) Para garantir a logística e a agilidade deste procedimento, os clubes poderão optar entre seguir utilizando o Hospital Albert Einstein ou, se preferirem, optar pela contratação de laboratórios locais, desde que portadores do selo de acreditação laboratorial, outorgado pelas entidades de saúde competentes, e obedecendo aos padrões de teste molecular especificados pelos protocolos. A CBF reembolsará o valor dos testes aos clubes que optarem pelo laboratório local, tendo como referência o valor estabelecido no contrato celebrado entre a entidade e o Einstein. Desta forma, a CBF mantém seu compromisso de custear integralmente a realização de todos os testes, seja diretamente com o hospital referido ou com o uso de laboratórios locais.
C) Os resultados deverão ser enviados à CBF até 24h antes da partida pelo clube mandante e até 12h antes da viagem pelo clube visitante, o que permitirá que qualquer equipe proceda a troca de eventuais jogadores com teste positivo.
D) Ao mesmo tempo, a CBF reforça que os clubes devem manter o rígido cumprimento do Guia Médico para retorno das atividades do futebol brasileiro e da Diretriz Operacional de cada competição, mantendo estrito controle de testagem e avaliação médica permanente.
A CBF reafirma seu compromisso de realizar as competições previstas em seu calendário, sempre colocando como prioridade a saúde de todos os que fazem parte do nosso futebol. E ressalta que qualquer decisão sempre é tomada levando em conta a segurança das pessoas envolvidas nas partidas”.
Texto: Toque de Bola – Pedro Sarmento, supervisão de Ivan Elias – Toque de Bola
Foto de capa: Rosiron Rodrigues