Demitido do Criciúma, Drubscky dispara contra “imediatismo e incompetência” no futebol brasileiro

O Toque de Bola teve acesso a uma carta, em tom de desabafo, publicada pelo ex-treinador do Tupi, Ricardo Drubscky, campeão brasileiro da Série D pelo clube juiz-forano em 2011. Nesta quinta-feira, 20, o Criciúma (SC) anunciou oficialmente a sua demissão.

O texto, enviado pela assessoria do treinador e assinado pelo próprio Drubscky, tem como ponto de partida exatamente a sua saída recente do clube catarinense, para falar em ” imediatismo, incompetência e comodismo”  no dia a dia do futebol brasileiro. O técnico dirigiu o Criciúma em apenas sete jogos oficiais. O clube ainda não anunciou o nome de seu substituto.

No Tupi

O técnico deixou ótima impressão em Santa Terezinha. A saída de Ricardo no Tupi é que não repercutiu bem entre os torcedores. O Toque de Bola estava em Recife, pouco depois da conquista do título nacional com uma vitória de 2 a 0 sobre o Santa Cruz, num Arruda lotado por mais de 60 mil torcedores. Toda a delegação seguiu para uma churrascaria, e ainda na noite daquele domingo o Volta Redonda anunciava, em seu site oficial, a contratação do técnico. O próprio Drubscky, poucos dias antes, havia comunicado à imprensa que acertara sua renovação com o clube de Santa Terezinha.

À exceção deste episódio, a trajetória do treinador no clube carijó foi marcada por um estilo de jogo que, com o tempo, tornaria-se vitorioso.  Na Série D de 2011, ainda na fase do mata-mata, o  Tupi precisava vencer coincidentemente o próprio Volta Redonda em Juiz de Fora, e conseguiu um 4 a 2 improvável depois de estar perdendo por 2 a 1. A partida marcaria a arrancada para a conquista nacional, em que o Tupi, em todas as fases seguintes, impunha seu estilo de jogo ao adversário, culminando com os dois jogos finais diante do Santa Cruz: vitória por 1 a 0 diante da torcida, gol de Ademilson, e vitória no “Mundão do Arruda” por 2 a 0, gols de Henrique e Allan.

Pós-Tupi

Depois de sair do clube carijó, Drubscky passou, entre outros, pelo Volta Redonda (RJ), Atlético Paranaense (PR) (aqui, montando a base da equipe classificada para a Taça Libertadores e vice-campeã da Copa do Brasil, posteriormente treinada por Wagner Mancini), Joinville (na Série B em 2013) e Criciúma (SC), clube que anunciou sua demissão nesta quinta-feira, 20.

Veja, abaixo, a nota publicada no site oficial do Criciúma:

“DRUBSCKY NÃO É MAIS O TÉCNICO DO TIGRE

  17h02 – por Imprensa

  Ricardo Drubscky não é mais o treinador do Criciúma. A definição pela saída do profissional ocorreu na tarde desta quinta-feira (20/02). Além dele, também deixa o clube o auxiliar técnico Alexandre Pinto.
 Drubscky deixa o Criciúma na terceira colocação do Campeonato Catarinense, a um ponto do líder. Ao todo, o técnico comandou o time em sete jogos. Foram três vitórias, três empates e uma derrota.
O   Criciúma Esporte Clube agradece a contribuição e dedicação do profissional e deseja sucesso nos próximos desafios na carreira.”
Ricardo Drubscky em sua vitoriosa passagem pelo Tupi (foto de arquivo Toque de Bola)
Ricardo Drubscky em sua vitoriosa passagem pelo Tupi (foto de arquivo Toque de Bola)

 Veja, abaixo, a íntegra do texto assinado pelo técnico campeão brasileiro da Série D pelo Tupi em 2011  

“Criciúma, 20 de Fevereiro de 2014

Com tristeza temos que reconhecer que o futebol brasileiro está se tornando refém do imediatismo e  da incompetência. Saio do Criciúma sem um “por quê” técnico que justificasse.

Quando nos interessa, reivindicamos modernidade aos métodos de trabalho e padrões de jogo.

Quando os encontramos, assentamos na comodidade do baixo discernimento sobre as táticas do jogo e a didática dos treinos. Não admitimos aceitar o novo, pois ele vai nos obrigar a “estudar” e ou a trabalhar mais para entendê-lo. É mais cômodo nos apegar ao pouco e medíocre que já está decorado.

No Brasil, principalmente no futebol, continuamos assistindo às massas se alimentando do discurso de instrumentos monopolizadores. Uma democracia cheia de defeitos continua produzindo massas alienadas. O futebol é apenas uma fatia deste bolo, mas tem todas as propriedades do bolo inteiro.

Não por acaso, assistimos ao estado de coisas absurdas em nossa vida cotidiana.

Agradeço às pessoas de bem do Criciúma EC, aquelas que realmente colaboraram e acreditaram no trabalho. Aos representantes da mídia esportiva que, com o profissionalismo jornalístico de bom nível, cobriram treinamentos e jogos informando o dia a dia do clube. E, em especial, aos torcedores que me aplaudiram e/ou apoiaram, o fazendo contra um obscuro movimento de forças do mal que insurgiu à volta do clube quando do meu trabalho.

Aos jogadores, o meu muito obrigado por terem contribuído com todas as forças para que a ideia de jogo fosse implantada. São vítimas também do processo que exige muito mais do que é possível em tão curto espaço de tempo. Estendo minha gratidão aos dirigentes e funcionários do Criciúma que colaboraram com todo empenho para que as coisas dessem certo.

Saio convicto que trilhava o caminho mais correto na armação do jogo da equipe profissional do Criciúma EC, o que seria capaz de fazê-lo crescer ainda mais no cenário esportivo nacional.

Um até breve a todos, pois o mundo da bola está sempre nos aproximando nas mais diversas situações.”

Ricardo Drubscky

Texto final: Toque de Bola, com textos da assessoria do treinador e do site oficial do Criciúma e informações das agências

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