
Welington Fajardo. Quando citamos este nome, ele pode ser lembrado por torcedores de América Mineiro e Cruzeiro, principalmente, como um goleiro que fez história.
Certamente será citado também por torcedores do Tupi como um dos treinadores com as melhores marcas de invencibilidade da equipe em casa, além da conquista da Taça Minas.
De uma conversa informal do Portal Toque de Bola com este ex-goleiro e atual treinador (estudioso, que está em dia com os cursos ministrados pela CBF), surgiu, da parte de Fajardo, este conceito a parir de uma área delimitada (veja na arte).
Não é – pelo que se sabe – um dado rigorosamente comprovado, mas é amplamente observado nos gols dos campeonatos nacionais e internacionais: já reparou que noventa por cento ou mais dos gols surgem dentro desta área? Por que?
Os goleiros melhoraram ou os homens de linha não querem ou não sabem mais chutar de fora da área? O que contribui com esta situação, que pode até parecer um pouco óbvia inicialmente mas não havia sido abordada anteriormente?

Veja o que fez o treinador estudar a questão
“Tudo que observamos é fruto de muito amor pelo futebol que eu tenho. De tentar ver o futebol por um outro olhar, tentar ver o futebol por um outro ângulo. São 46 anos nisso. Muitos detalhes… e quando eu vejo que uma pessoa se interessa pelo assunto é muito legal. Dividi isso com bastante gente e houve mesmo assim algum questionamento”.
Treinador de goleiros começa em 1983
“Desde o início, quando eu comecei a jogar futebol, os gols saíram de uma forma diferente. Os goleiros hoje evoluíram técnica e taticamente ou os atletas de linha não têm mais espaços e técnica apurada para tentar executar o chute de fora da área. Para você ter ideia o treinador de goleiros começou em 1983. Muita coisa mudou e a gente tenta acompanhar essa evolução”.
Faculdade “despertador”
“Quando eu formei na faculdade de Educação Física eu despertei muito a questão mesmo de poder pesquisar, nos deixa muito aguçado do conhecimento. E eu desenvolvi uma palestra para todos os alunos do último período da Educação Física. O professor Gilbert Nascimento dos Santos me pediu para falar sobre futebol. Então a palestra era “O futebol moderno: o que mudou na prática”, e eu notava que a cada semestre que eu ia, estava sempre mudando alguma coisa. E isso me ajudou também, porque eu estava parado de poder estar desenvolvendo essas mudanças que estão acontecendo muito rápido no futebol”.
De onde os gols têm saído?
“A questão é: onde tem saído o último toque, o toque final, onde têm saído os gols.
Delimitamos esta área, traçamos uma linha entre as duas pequenas áreas até a grande área e da grande área para dentro”.
Por que os gols estão saindo ali?
Transições
- “No aspecto da movimentação do jogo. Hoje em dia as transições ofensivas e defensivas fizeram com que o preenchimento de espaço da área se tornasse muito grande”.
“Que fim levou” o chute de fora da área?
- “Um chute de fora da área hoje, tem uma pressão no chutador. Já tem a dificuldade de o jogador ter um bom chute. Ninguém chuta como antigamente, porque o jogo é muito intenso. Todo mundo que arma para chutar existe uma cobrança do zagueiro, do goleiro, do treinador adversário, para quem for chutar em gol ele chute pressionado.
Então já existe essa dificuldade de sair o gol fora da grande área. Fora desse limite (área marcada na arte). A jogada hoje é muito mais trabalhada para chegar neste ponto que nós demarcamos. E o porquê deste ponto?
Porque neste ponto o jogador que está dentro da área, que tem uma possibilidade maior de fazer o gol, tem, dentro da sua visão, os dois lados para poder tirar do goleiro. Fora desta área (delimitada), ele tem só o chute em diagonal.
A evolução dos goleiros
Da minha época (de goleiro) até pouco tempo atrás, houve uma evolução muito grande. Hoje os goleiros têm uma envergadura muito grande e conseguem chegar numa bola cruzada.
Na minha época a preocupação era, num chute cruzado você defender o seu canto, não era tanta responsabilidade tomar o gol na outra diagonal. Então, naquela época, muitas vezes fora desta área delimitada saia o gol. Hoje, fora desta área, dificilmente você vê o goleiro tomando o gol porque, hoje os goleiros chegam nesta bola.
Se precisa de um pouco mais de trabalho, de capricho, para o jogador chegar dentro desta área marcada e ter os dois lados para tirar do goleiro. E o chute cruzado, fora destas linhas, o goleiro está chegando nesta bola. Ele é muito melhor treinado, muito maior.
Se a gente começar a observar os gols estão saindo em sua grande maioria nesta área delimitada por vários motivos, mas principalmente por causa disso.
O chute a gol e os gols de falta
Outra coisa: não vejo muito trabalho analítico de chute a gol. O trabalho de chute a gol acaba “machucando” muito a musculatura. E para você percorrer numa partida 10, 13 quilômetros, envolve muito a parte física, então fica um pouco defasada a questão do chute a gol.
Tanto que estão diminuindo muito também os gols de falta. Não se treina muita falta direta hoje. Prefere se fazer a jogada porque é um movimento repetitivo, que usa só um músculo e coloca aquele músculo com a possibilidade de ter uma contusão.
Vejo muito futebol e tenho notado que os gols têm saído naquele ponto. E para que serve isso para um treinador, como no meu caso?”
Por que cheguei a esta conclusão?
“Se quase 90 por cento dos gols saem nesta área, então temos que fazer jogadas para que eu atinja aquele ponto atacando. E consequentemente tenho que defender bem aquela área. Obrigar, empurrar meu adversário para os lados do campo porque sei que fora daquela área ou de um chute de fora da área dificilmente eu (o time que eu estiver treinando) tomarei este gol.
O intuito desta observação é muito objetivo: levar isso para o jogo, mostrar aos jogadores, proteger esta área porque noventa por cento ou mais gols saem desta área.
A maioria dos gols que sai com chutes de fora da área resvala em algum jogador e muda a trajetória da bola.
Quando não, o goleiro, na maioria das vezes, faz a defesa”.
Texto editado pelo Portal Toque de Bola, fruto de um estudo do treinador Welington Fajardo
Arte: Welington Fajardo
Fotos: Arquivo Pessoal e Arquivo Toque de Bola