“Um grande time começa por um grande goleiro”. Uma das mais tradicionais frases do futebol se aplica com facilidade na equipe sub-20 do Tupi. Destaque do Galinho na grande campanha na Copa São Paulo de Futebol Júnior 2020, o goleiro Davyd foi uma das lideranças do time comandado por Wesley Assis no torneio.

Em entrevista exclusiva ao Toque de Bola, Davyd falou sobre a participação do Carijó em uma das maiores competições de base do país e exaltou a força do grupo montado.
“O sentimento é de gratidão por ter feito história em um clube com tanta tradição e com uma camisa pesada como é o Tupi. Infelizmente as derrotas são coisas do futebol. Dentro das quatro linhas pode acontecer de tudo. Na Copinha foi uma emoção única. Consegui pegar duas cobranças contra o Gama e colocar o clube na terceira fase, mas o mérito não é só meu. Tenho que agradecer a toda a comissão técnica pela preparação e aos atletas que se prepararam para bater seus pênaltis. É uma família que trabalhou muito para chegar na Copinha e fazer uma boa campanha”, relembra o goleiro.
Fica?
Com o fim do contrato de parceria do clube com o empresário dos atletas, André Luiz, ainda não se sabe se os atletas serão aproveitados. Ainda assim, Davyd deixou as portas abertas para uma possível permanência no alvinegro de Santa Terezinha.
“O Tupi está prestes a estrear no Módulo II do Mineiro e o futuro fica nas mãos de Deus. Que Ele guie meu caminho. Agora, para onde quer que eu vá, eu criei um carinho muito grande pelo Tupi por tudo que passei no clube. Se for para continuar e integrar o elenco profissional, que assim seja. Vou ficar muito feliz com isso. Ajudar o Tupi a subir para o Módulo I e voltar a estar entre os grandes do estado. Se tiver de ir para outro lugar, também serei grato”, afirma.
Em revisão
Em contato com a reportagem, o treinador Alex Nascif disse que “tem interesse em contar com alguns dos garotos, mas que houve um desgaste entre a diretoria e o André (empresário dos atletas) e por isso a renovação da parceria está sendo discutida entre as partes”, o que demanda uma espera por parte da comissão. Segundo Juninho, presidente do clube, “há interesse em contar sim com os garotos e não tem confusão entre eles e a diretoria. Só colocamos que se a parceria fosse renovada o contrato tinha que ser revisado.”
Já para André Luiz, empresário do atleta, a permanência de Davyd no Tupi é considerada, momentaneamente, inviável. “Todos os atletas que disputaram a Copa São Paulo têm idade sub-20 e o Tupi tem que pensar no futuro. Ver esses atletas no profissional agora, para mim, não é o ideal. Os garotos precisam respirar novos ares. Independente da minha presença ou não, o Tupi não pode largar a base, porque ela é a sobrevivência do clube. Ainda assim, neste momento, a permanência deles é inviável.”

Mudança de comportamento
A maturidade e a liderança não vieram de uma hora para outra. Após desembarcar em Juiz de Fora para defender o Tupi, Davyd demorou a se adaptar às condições de trabalho, mas foi persistente e demonstrou evolução, como conta o treinador Wesley Assis.
“O Davyd teve uma evolução comportamental impressionante. Ele passou a ter uma postura de atleta profissional. Entre março de 2019 e janeiro de 2020 esse garoto assumiu uma postura de liderança muito positiva. Além disso, o fato de não termos preparador de goleiros em alguns momentos do trabalho exigiu uma maturidade muito grande dele. A palavra que me vem na cabeça quando falo do Davyd é mudança de postura, tanto como atleta quanto como homem, ainda mais após a saída dos atletas mais velhos que ele. O resultado pôde ser visto na Copa São Paulo”, analisa Assis.
Limão, laranja, batata…
Davyd começou a jogar futebol aos 7 anos, no Social, de São João Del Rei. Desde muito novo, sempre contou com o apoio dos familiares, principalmente da mãe, Daniela Sena. Ao Toque, Daniela revelou que o amor do filho pelo esporte chegou a ser motivo de broncas dentro de casa.
“Se eu chegasse em casa com uma sacola de mercado e caísse um limão no chão, ele começava a chutar. Chutava batata, laranja, tudo que tinha formato de bola. Fazia bola de meia para brincar com os irmãos dentro de casa e eu brigava muito com ele por conta disso”, conta a mãe.

Mãe de goleiro
Sempre presente em treinos, jogos e viagens, Daniela trabalhava de madrugada na Santa Casa de São João Del Rei e, muitas vezes, não dormia. A hora que chegava em casa já tinha que levar Davyd para treinar. O descanso? Era na arquibancada.
“É muito complicado ser mãe de goleiro. Eu sou uma mãe fanática por futebol e por ele principalmente. Eu sou a mais xingada e a mais elogiada, ao mesmo tempo. Eu costumo dizer que as duas mães mais xingadas no campo de futebol são a mãe do goleiro e a do juiz. Até por isso eu nunca deixei ele sozinho. Lembro que eu trabalhava na Santa Casa no período da noite e ele treinava de manhã. Muitas vezes eu não conseguia dormir e ia mesmo assim ia levar ele nos treinos. Às vezes dormia até na arquibancada. Por isso que eu tenho orgulho de falar que eu fiz parte de tudo”, comemora Daniela.
Paredão bebê
A presença da mãe nos jogos fez Davyd ganhar um apelido carinhoso, que ele mesmo já acostumou depois de tanto tempo.
“Teve um campeonato da Taça BH que eu queria fazer uma camisa para as ‘Mães Tietes’ e elas ficaram com vergonha. Eu fui a única que fiz. Coloquei o apelido no Davyd de bebê nesse dia e prevalece até hoje. Alguns meninos mais antigos que jogam com ele chamam ele assim. Eu não queria saber se era time grande, time pequeno, se tinha imprensa ou não, eu chegava e falava ‘Mamãe chegou, bebê!’. Foi assim que ele virou meu ‘Paredão bebê’.”
Texto: Toque de Bola – Pedro Sarmento
Fotos: Denny Cesare; Junior Ayupe/Tupi