Crônica: O dia em que Mendonça “conheceu” Antônio do Arado

Mendonça faleceu aos 63 anos

  O mundo do futebol se despediu de mais um grande jogador nesta sexta, dia 5. Mendonça, meia-atacante ídolo do Botafogo, morreu após permanecer dois meses internado em estado grave no CTI do Hospital Albert Scweitzer, no Rio de Janeiro, em decorrência de uma queda na escada da estação de trem Guilherme da Silveira, em Bangu. Na noite da última quinta, dia 4, ele apresentou uma piora por conta de uma infecção grave e não resistiu.

  Com passagens por Portuguesa, Palmeiras, Santos, Grêmio e Seleção Brasileira, Milton da Cunha Mendonça se foi aos 63 anos, mas deixou muitas histórias a serem contadas. Uma delas, inclusive, no Torneio Regional de Bicas, por volta do ano 2000, como conta Antônio Carlos da Silva, mais conhecido como Antônio Capeta ou Canhoto.

  Já com a carreira profissional encerrada, Mendonça foi a Bicas atuar por uma equipe de Leopoldina diante do Bavet, time de Antônio. Em depoimento, Canhoto conta como foi aquele dia especial, que teve como destaque uma situação que provocou riso geral. Como homenagem ao craque, o Toque de Bola conta essa história. Valeu, Mendonça!

  Confira a história, na íntegra:

Antônio Canhoto ainda veste a camisa do Bavet

  “Mendonça jogava demais. Certa vez, disputando o Torneio de Veteranos Regional de Bicas pelo Bavet, antes de começar o jogo estávamos eu e o Júlio Bacatela batendo bola. Nós fazíamos um esforço danado para bater na bola e ele (Mendonça) só de encostar na bola jogava ela longe. Aí o meu amigo Quarenta me chamou, apontou para ele e falou: ‘Olha aquele cara lá porque é ele que você vai marcar’. Eu olhei pro Bacatela e falei: ‘Bacatela do céu, o que é que eu vou arrumar aqui?’. Peguei nossa bola que estávamos brincando e falei com o Bacatela para trocarmos com a do Mendonça, porque a bola dele devia estar mais leve que a nossa. Deu em nada, continuou a mesma coisa: ele encostava o pé na bola e ela ia longe. Eu não sabia o que fazer. Aí começou o jogo e na primeira bola que ele pegou e eu cheguei nele, tomei um drible de corpo. Minha coluna quase foi para a ‘casa do caçamba’. Na segunda bola, ele me deu uma caneta. Aí complicou.

 

Essa era a composição do Bavet na época do jogo contra Mendonça

Na terceira eu tive que ir mais duro nele. Na hora que ele dominou eu entrei forte, levei Mendonça, bola, grama, tudo. Ele se levantou nervoso comigo e me perguntou: ‘Ô rapaz, você sabe quem eu sou? Sou o Mendonça, joguei no Botafogo, na seleção brasileira’.

  Eu interrompi ele e falei ‘Beleza cara, tranquilo. Eu sou o Antônio Capeta, lá do Arado, muito prazer’. Ele deu uma risada na hora e ficou tudo certo. Mas eu tenho que confessar uma coisa: eu joguei em categoria de base aqui em Juiz de Fora e não vi igual. Eu dava umas paradas durante o jogo só pra ver ele jogando. Era impressionante a habilidade e a elegância que ele tinha. Me recordo que teve uma falta a uns 5 metros do meio-campo e o nosso goleiro pediu para abrir, sem barreira, porque estava muito longe. Nosso técnico mandou dois entrarem na frente da bola só pra atrapalhar um pouco, porque senão era saco. Depois que acabou o jogo, eu tirei foto com ele, mas perdi a foto. Naquela época ele ainda colocava a bola onde queria, com 40 e poucos anos. Nesse jogo, inclusive, ele fez um gol de falta que o Maninho nem viu onde a bola foi. É uma grande perda, uma pena. Que Deus conforte toda a família”.

Texto: Toque de Bola

Relato de Antônio Carlos da Silva – Edição do Toque de Bola

Fotos: Arquivo pessoal/Antônio Canhoto e Botafogo/Divulgação

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