Crônica e depoimentos: Juiz de Fora despede-se de Geraldo Magela Tavares com emoção

   Poderíamos abrir o texto dizendo que o futebol local despede-se, emocionado, de Geraldo Magela Tavares.

Não deixa de ser verdade, mas ao mesmo tempo soa injusto.

Técnico dos principais clubes da cidade e região nos bons tempos do futebol regional e comandante do Tupi na década de 60, época do já eterno time conhecido como o “Fantasma do Mineirão” e dirigente de clubes e entidades até o momento da despedida, no início da tarde de sexta-feira, 8, é mais verdadeiro registrar que não só o futebol e o esporte, mas a cidade de Juiz de Fora, agradecida, diz adeus ao Magela do rádio, da televisão, do carnaval, da memória, da conversa, da franqueza e da generosidade.

A notícia do falecimento de um jovem senhor de 87 anos – faria 88 no próximo dia 24 – veio quando a diretoria do Tupi preparava-se para uma entrevista coletiva na sede social. A atividade foi suspensa. A cidade e a comunidade esportiva local ficaram em choque. Afinal, não está sendo fácil compreender como alguém que esteve sempre à disposição de todos tenha resolvido descansar um pouco.

Magela atendia a todos. Um exemplo próximo? Se qualquer estudante de Comunicação precisasse consultar a história do Tupi ou do futebol local, era só marcar que ele estava sempre à disposição. E gostava de ser consultado.

Jogos do Tupi no Estádio Mário Helênio? Sim, estava lá também. Às vezes passava pela área próxima aos vestiários no campo antes de seguir para a arquibancada. Cumprimentava um a um quem passasse pelo seu caminho. Para ele, poderia até ser só um cumprimento. Para os outros, era mais uma chance de reverenciá-lo.

Diferentes gerações do esporte local foram prestar homenagem a Geraldo Magela. A foto é do time carijó da década de 60, conhecido como "Fantasma do Mineirão", e que tinha Magela como técnico
Diferentes gerações do esporte local foram prestar homenagem a Geraldo Magela. A foto antiga, mostrada pelos ex-jogadores Evaldo e Moacyr Toledo, é do time carijó da década de 60, conhecido como “Fantasma do Mineirão”, e que tinha Magela como técnico

   Luto oficial

Magela estava internado desde 23 de abril, com câncer nos ossos. O prefeito Bruno Siqueira decretou luto oficial de três dias  em Juiz de Fora. O decreto foi publicado no Diário Oficial Eletrônico do Município deste sábado, 9. Geraldo ocupava atualmente o cargo de vice-presidente do Tupi. Treinou Tupi, Sport e Tupynambás e clubes da região como o Olimpic, de Barbacena. Foi, ainda, treinador da seleção mineira nas décadas de 60 e 70, jogador profissional.

De acordo com informações divulgadas pela Prefeitura, “por cerca de 20 anos, atuou como comentarista esportivo e apresentador em Juiz de Fora. Sua ligação com o município foi além do futebol. Nos anos 2000, coordenou o carnaval de Juiz de Fora, além de ter ocupado a Secretaria de Governo e Articulação Institucional da Prefeitura. Como repórter, atuou, em 1960, na cobertura nacional da então Rádio Industrial na eleição de Jânio Quadros, quando acompanhou o pleito direto de Belo Horizonte. Participou de diversos momentos políticos em Juiz de Fora e sempre demonstrou interesse pelas questões locais, além de fazer parte, durante anos, do programa Mesa de Debates, da TVE”.

Geraldo Magela Tavares era casado e tinha cinco filhos, netos e bisnetos.

 

Em 11 de dezembro de 2014, Geraldo Magela recebeu o Mérito Esportivo Panathlon como "Personalidade Esportiva". A placa foi entregue pelo presidente do  Panathlon Club de Juiz de Fora, Cláudio Esteves, e pelo médico e dirigente carijó e panathleta José Roberto Maranhas
Em 11 de dezembro de 2014, Geraldo Magela recebeu o Mérito Esportivo Panathlon como “Personalidade Esportiva”. A placa foi entregue pelo presidente do Panathlon Club de Juiz de Fora, Cláudio Esteves, e pelo médico e dirigente carijó e panathleta José Roberto Maranhas. Foi uma das últimas homenagens recebidas pelo desportista

 

    Elenco

Pouco antes do sepultamento, marcado para 10h, todos os jogadores do Tupi, com roupa de treino, juntaram-se aos integrantes da Comissão Técnica, dirigentes, torcedores, familiares e admiradores de Geraldo Magela no Parque da Saudade.

 

Com roupa de treino, jogadores e Comissão Técnica do atual elenco carijó prestaram homenagem em oração no Parque da Saudade
Com roupa de treino, jogadores e Comissão Técnica do atual elenco carijó prestaram homenagem em oração no Parque da Saudade

 

   Depoimentos

Neste sábado, 9, o Toque de Bola foi ao sepultamento, no Cemitério Parque da Saudade, para trazer depoimentos de quem conviveu com Geraldo Magela. Um conselheiro, para a atual presidente do Tupi, Myrian Fortuna, um “pai” para Moacyr Toledo e Júlio Maravilha, um técnico e carnavalesco para David Chaves. A cada depoimento, revela-se um pouco de sua importância. E a certeza de que centenas de novos depoimentos podem ser feitos a qualquer momento entre aqueles que desfrutaram do “seu” Magela.

Welington Magela, 68 anos, irmão de Geraldo, preferiu se manifestar com um depoimento curto, mas contundente: “Como irmão, homem, pessoa, todos conhecem o Magela. Por isso vou definir ele em uma frase: Morreu um imortal, Geraldo Magela Tavares”

 

Myrian Fortuna, presidente do Tupi:"Uma pessoa fantástica"
Myrian Fortuna, presidente do Tupi:”Uma pessoa fantástica”

   Myrian Fortuna – presidente do Tupi Futebol Clube

   “Conselheiro e companheiro” 

“O Magela era meu conselheiro, meu companheiro, estava sempre ali comigo nesse um ano e meio de vice-presidência, uma pessoa fantástica. Nos últimos momentos dele nós sempre nos falávamos por telefone, quando ele ia ao clube nunca deixou transparecer nada, eu nem mesmo percebi nada, a não ser sempre uma dor nas costas que ele comentava e não sabia o que era. Mas na última reunião do Conselho e ele foi tranquilo, falou da importância do nosso mandato, pela nossa luta de não deixar o clube se abater pelo campeonato difícil que estávamos passando. Pediu para que eu fosse firme nas decisões e nas cobranças com os atletas. Não consegui prestar a homenagem que ele merecia, estou muito abalada”.

 

Júlio Maravilha: títulos, conselhos e carinho
Júlio Maravilha: títulos, conselhos e carinho

   Júlio Maravilha – zagueiro do Tupi e do Cruzeiro

    “Procurei sempre seguir os conselhos”

“Eu tenho o seu Geraldo como um pai. Eu fiz parte de vários times do Tupi dirigidos por ele e você vê que, onde quer que você fale da história do clube, o Seu Geraldo estará nela encaixado de alguma forma. Todas as grandes equipes que o Tupi teve, em sua maioria, o Seu Geraldo estava no comando, como o Fantasma do Mineirão. Eu tive a felicidade de ser campeão com ele, e em 1975, quando eu tive uma passagem para o Cruzeiro, foi ele que ajudou na negociação. Eu fico muito triste com a perda dele, porque para mim ele representou muito na minha carreira de jogador de futebol.

Na relação pessoal  foi muito bom, procurei sempre seguir todos os conselhos que ele me passava. A relação profissional também foi muito boa, ganhei muitos títulos com ele e isso vai ficar sempre marcado.

Tivemos muitas histórias, mas uma muito engraçada ocorreu em Uberlândia. O time da cidade era muito forte, tinha vencido a Taça de Prata, e nós fomos fazer a final do campeonato do interior de 1981 lá. E antes da partida o seu Geraldo me chamou no quarto e falou que ia mudar o time todo. Ainda disse mais: como eu era o capitão da equipe, mandou que, quando ganhasse no cara ou coroa, escolhesse jogar o primeiro tempo defendendo do lado da torcida deles, porque aí no segundo nós não seríamos pressionados. Só que no intervalo abriram os portões e o pessoal foi todo para o nosso lado. Então prevaleceu a experiência do “seu” Geraldo nas substituições e no modo de conduzir a partida e nós conseguimos vencer por 1 a 0 e conquistar o título”.

Fernando Borel foi goleiro na seleção de Juiz de Fora
Fernando Borel foi goleiro na seleção de Juiz de Fora

 Fernando Borel – goleiro do Sport, trabalhou com Magela na seleção de Juiz de Fora

 “Melhor técnico da cidade”

“O Geraldo Magela talvez foi o melhor técnico de futebol que nossa cidade já teve. Ele foi campeão por onde passou, e eu tive o prazer de trabalhar com ele um bom tempo, hoje convivo com o filho dele, que é muito meu amigo. Foi uma perda irreparável para o futebol da cidade, com certeza.

Ele era um grande entendedor do futebol, um estrategista, e eu sempre tive um bom relacionamento com ele. Embora, eu tenha sido adversário de posição com o filho dele, o Paulo Roberto, que também foi um grande goleiro, mas tanto dentro quanto fora de campo nossa relação foi a melhor possível. Destaco a austeridade e seriedade dele, sempre um cara enérgico dentro de campo mas um grande pai para todos que trabalhavam com ele”.

 

 

O então ponta-esquerda Ronaldinho renovava seus contratos no clube de Santa Terezinha coma ajuda de Magela, que não liberou o jogador para defender o Bangu
O então ponta-esquerda Ronaldinho renovava seus contratos no clube de Santa Terezinha com a ajuda de Magela, que não liberou o jogador para defender o Bangu

 Ronaldinho – foi ponta-esquerda do Tupi  

 “Relação de pai para filho”

“Eu tive muita história com o Geraldo. A maioria dos contratos que eu tive com o Tupi, que foram cinco, foram de renovação com ele, então tivemos uma relação muito legal. Apesar de na época nós não termos noção de como renovar um contrato, fazer um contrato, ele teve a humildade de nos ajudar e ensinar. Ele foi um paizão no tempo de Tupi para mim.

É uma perda muito grande. Um cara que viveu até os seus 87 anos ativamente relacionado com o Tupi. Seja na segunda divisão, na primeira divisão, na crise, no título brasileiro, então era um cara intenso que vai fazer muita falta.

Uma época boa que jogamos contra o Bangu em 1983. Eu fui bem no jogo contra o Casemiro, jogador de seleção brasileira, e o Bangu veio com o Catuca, supervisor que era do Castor de Andrade, me buscar. Então eu pedi para o Seu Geraldo para ir disputar o Campeonato Carioca, mas ele me segurou, disse que me queria no Mineiro e eu tive uma passagem legal no estadual. Era uma relação de pai para filho mesmo tanto dentro quanto fora de campo”.

Moacyr Toledo e Dário defenderam o "Fantasma do Mineirão" que fez história sob o comando de Geraldo Magela
Moacyr Toledo e Dário defenderam o “Fantasma do Mineirão” que fez história sob o comando de Geraldo Magela

Dário – Jogou no “Fantasma do Mineirão” treinado por Magela

Vitória com derrame no joelho

“Eu cheguei novo no Tupi em 1956 e o Geraldo Magela era o treinador do profissional, comecei atuando no juvenil e conquistei o título regional da categoria que o time não ganhava fazia 11 anos. Posteriormente subi para a equipe principal e tive a oportunidade de ser campeão várias vezes com o Tupi e de ser comandado por ele no famoso Fantasma do Mineirão. Ele conseguiu montar uma retranca na qual jogávamos no 4-4-2, ganhamos do Cruzeiro e do Atlético duas vezes, depois fomos jogar em Caxambu contra a Seleção Brasileira, para a titular perdemos de 2 a 0 e para a reserva empatamos em 1 a 1. A seleção gostou tanto do nosso time que nos convidou mais uma vez para um amistoso em Três Rios-RJ e, mais uma vez, perdemos por 3 a 0.

Eu me recordo de um jogo que fomos a Barbacena enfrentar o Olimpic e eu estava com um derrame no joelho e não poderia atuar, mas fui para apoiar os companheiros. E o Lilinho que era meu companheiro de zaga queria que eu jogasse de qualquer jeito, mas eu relutei e disse que não tinha condição. Então o Lilinho chamou o Geraldo Magela, os dois conversaram comigo, eu coloquei uma proteção no joelho e fui para o jogo e vencemos a partida”.

 

   Moacir Toledo – jogador de Magela no Tupi “Fantasma do Mineirão”

   “Nosso time joga em leque…”

O convívio que eu tive com o Magela foi no Tupi em 1966 que ficou conhecido como Fantasma do Mineirão porque ganhou de todo mundo. Sinceramente, se eu fosse enumerar tudo que esse homem já fez ele vai ser eterno. Para mim ele é o anjo do Mineirão, porque fantasma ele não vai ser nunca. Me lembro de uma passagem dele no último jogo no Mineirão ele falava com um a um do nosso time, do goleiro ao ponta-esquerda, e eu era o ponta-esquerda, o último a ser falado, e quando chegou para mim e disse: “Olha Toledo, você é o camisa 11, hoje se tivesse outro filho além do Paulo eu colocaria o seu nome”. Aquilo para mim… Eu entrei no campo dando tudo que tinha e o que não tinha, ele sabia motivar. Diferente de outros que eu estava vendo na internet ontem, o Ademilson ontem era ídolo e hoje está sendo despejado. É isso que eles fazem com os destaques?

Hoje em dia eles ficam nessa de 4-2-1 e não sei o quê mais, e esse homem teve uma passagem que os repórteres no Mineirão ficaram perto dele e queriam saber que esquema que a gente usava, que time era esse que estava ganhando de todo mundo. Então ele virou para mim e falou: “Sinceramente, vou falar que o nosso time joga em leque”. Meu Deus do céu, o que é leque? Não tinha leque nenhum, ele inventou isso na hora. Então sinceramente eu vou acreditar nesses caras que estão até hoje enganando os outros ou em quem me ensinou tudo? Sempre ficarei com esse: Geraldo Magela.

Edson "Samarone" vestiu a camisa dos grandes cluebs da cidade e se emocionou ao lembrar passagens com Magela
Edson “Samarone” vestiu a camisa dos grandes clubes da cidade e se emocionou ao lembrar passagens com Magela

Edson “Samarone” – Jogou no Tupynambás, Sport, Tupi e Princesa das Tintas

“Tenho muitas saudades dessa época”

“Meu nome mesmo é Edson Gonçalves Mendes. Quem me deu esse apelido foi o grande Mário Helênio. E o Geraldo Magela foi meu treinador no período de 1987 no Campeonato Mineiro e tenho muita saudades dessa época. O professor era fantástico, passava muita coisa a respeito do posicionamento do centroavante dentro da grande área, aprendi muito com ele. Eu comecei no Tupynambás, fui campeão seis vezes, depois fui para o Sport, saí de lá e fui para o Princesa das Tintas disputar um campeonato regional com a equipe que era muito boa, depois retornei para o Sport e aí sim fui para o Tupi disputar o Mineiro”.

Davi Chaves, com a esposa Lu: no futebol, pelo Baeta,  e no carnaval da cidade, pela Juventude Imperial, Davi tem muitas histórias com Magela para contar
Davi Chaves, com a esposa Lu: no futebol, pelo Baeta, e no carnaval da cidade, pela Juventude Imperial, Davi tem muitas histórias com Magela para contar

   Davi Chaves – futebol pelo Baeta e carnaval pela Juventude Imperial

   “A cidade perdeu muito”

“O Geraldo tanto no futebol como no carnaval foi um eterno amigo. Eu tive o primeiro contato com ele quando foi meu treinador no Tupynambás numa época maravilhosa e selou a amizade e confiança. Ele era um treinador rígido, exigia demais o melhor de todos. No carnaval ele sempre deu a maior atenção às escolas de samba, aquela tranquilidade no desfile como diretor. A cidade perdeu muito com o seu falecimento.

No futebol ele sempre teve grandes momentos no futebol, ele sempre repassava para nós os fatos do Fantasma do Mineirão, e no Tupynambás teve um jogo contra o Ribeiro Junqueira, ele fez uma mudança que achamos pitoresca porque estávamos com dificuldades de reserva e ele teve que colocar o goleiro de atacante. O goleiro Marcão sempre ficava com aquelas  gracinhas de jogar lá na frente e nesse dia o Geraldo foi e colocou ele para ver o que arrumava. O resultado foi bom porque já estávamos vencendo por 4 a 0. Mas ele sempre foi muito sério.

No carnaval teve um ano que eu até discuti com ele na avenida por causa da Juventude Imperial porque tinha um jurado que era meio duvidoso, e eu não confiava na apuração dele, mas terminou tudo bem porque a escola acabou campeã”.

Carlos André Stroppa Moreira: título inesquecível no  ABC Futebol Clube do bairro Manoel Honório . treinador? Magela
Carlos André Stroppa Moreira: título inesquecível no ABC Futebol Clube do bairro Manoel Honório . Treinador? Magela

  Carlos André Stroppa Moreira – torcedor do ABC do bairro Manoel Honório 

  “Zona Sul x Zona Norte no campo do Industrial Mineira”

“Convivi com o Magela desde criança e em 1963 acompanhávamos o futebol amador da cidade e ele foi treinador do ABC Futebol Clube, do bairro Manoel Honório, que foi o campeão daquele ano. Em 2013 comemoramos os 50 anos desse título e ele e os jogadores receberam homenagens. O campeonato amador na época era muito forte o profissional era disputado por mais de 20 clubes da Zona da Mata e a Segunda divisão tinha equipes fortes como o Benfica, a Industrial Mineira, o Olaria, Social, São Carlos, Montanhês, times da cidade inteira. O ABC tinha jogadores como Rodrigo Pinho, craque do futebol de salão, Betinho, que naquele ano ele veio do Fluminense para Juiz de Fora e depois do campeonato assinou com o Sport e ficou lá por muito tempo, tinha o Beto Laval,  que foi um dos melhores jogadores que eu vi jogar. O campeonato tinha duas chaves com times da zona norte e da zona sul na primeira fase. Os quatro melhores de cada chave se enfrentavam em um grupo único, todos contra todos no campo do Industrial Mineira que tinha um campo muito bom e nos domingos a tarde tinham públicos enormes. E no dia do título após o jogo todos saíram do campo para o bairro e teve uma festa enorme, inclusive no mesmo dia estava ocorrendo um jogo profissional do Sport, e assim que acabou todos foram comemorar com a gente lá no bairro, foi uma festa muito bonita”

 Márcio Guerra – jornalista e professor da UFJF

    “Perda gigantesca”

O jornalista e professor da UFJF, Márcio Guerra, registrou a partida de Geraldo Magela nas redes sociais pouco depois da divulgação da notícia: “Com muito pesar informo o falecimento do radialista, treinador, amigo, e desportista Geraldo Magela Tavares. Uma perda gigantesca para o esporte da cidade. Aqui uma foto quando ele com dignidade dirigiu o meu Sport Club Juiz de Fora”

Foto da época em que Geraldo Magela foi treinador do Sport . Na foto, do blog Márcio Guerra Memória, Magela fala aos jogadores, observado pelo então dirigente José Simão
Foto da época em que Geraldo Magela foi treinador do Sport . Na foto, do blog Márcio Guerra Memória, Magela fala aos jogadores, observado pelos então dirigentes José Simão e Dirceu Siano

 

  Ailton Alves – jornalista, assessor de imprensa do Tupi no ano do centenário do clube (2012)

 “A memória viva do Tupi”

O Geraldo era a memória viva do Tupi. Não tem ninguém em Juiz de Fora ou Minas Gerais que saiba mais do Tupi do que ele, e não era de ler, era de viver essa história. Para se ter uma ideia, o Geraldo com cinco ou seis anos de idade esteve presente na inauguração do estádio Salles de Oliveira em 1932. O que mais me impressionava na memória do Geraldo é que ele conversava olhando para frente, e parecia que tinha uma nuvem de recordações. Ele via o time treinando no Salles e se lembrava de um treino parecido que ele havia dado na época do Fantasma do Mineirão. Então ele tinha essa coisa de sempre relembrar fatos. Com a perda dele, claro muito triste por ser uma excelente pessoa, mas o maior drama em um acontecimento triste como esse é a perda da memória. Nunca mais poderemos consultá-lo sobre a história do Tupi como se faz com uma enciclopédia.

O meu grande momento com o Geraldo Magela sem dúvida foi o período do centenário do Tupi em 2012, onde praticamente todas as informações apuradas foram checadas com ele. Mesmo aquelas que você tinha certeza deveriam passar por ele porque ele sempre teria mais um detalhe. Se você tivesse escrito cinco páginas sobre uma determinada história, depois de consultar o Geraldo, com certeza você escreveria pelo menos mais uma com detalhes que ele acrescentaria. Eu era assessor de imprensa do clube e nessa época muitos eram os contatos para saber da história do Tupi e eu só tinha um nome para indicar: Geraldo Magela. Ele era incansável, chegou a dar umas cinco entrevistas por semana, e era engraçado porque ele contava a mesma história para diferentes repórteres com a mesma precisão de narração dos fatos, mas de formas diferentes. Para cada um que ele falava, um detalhe diferente era acrescentado. Ele tinha esse dom de contar histórias e para mim esse foi o grande ponto do centenário. Se o Geraldo Magela não estivesse conosco no centenário do Tupi, essa seria a comemoração mais chocha da história. Com ele o centenário do Tupi foi mais do que especial.

   Fotos históricas

A pedido do Toque de Bola, o filho de Moacir Toledo, o preparador físico Paulo Henrique, encaminhou algumas fotos do arquivo pessoal que resgatam um pouco da trajetória do “Fantasma do Mineirão” e da época em que Juiz de Fora representava, no futebol, a seleção mineira em campeonatos nacionais que reuniam os selecionados de cada estado. Nas equipes, Moacir Toledo era jogador e Magela, treinador.

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   Valério, Olimpic…

Poderíamos aqui contar também que Geraldo era o técnico carijó numa virada fantástica sobre o Valeriodoce, que vencia até os 39 minutos do segundo tempo por 3 a 1 e voltou a Itabira derrotado por 4 a 3 no alçapão do Estádio Salles Oliveira.

Ou então vamos lembrar que houve uma desavença, Magela trocou Santa Terezinha pelo Olimpic, de Barbacena, e o destino juntaria justamente os dois times na grande final do então disputadíssimo Torneio Regional (que a “velha guarda” nem ousaria trocar pelo atual Campeonato Mineiro). O Olimpic de Magela “sapecou” 3 a 0 no Tupi, e a decisão foi em Juiz de Fora!

Mas, como dissemos lá no começo do texto, não seria justo tentar contar aqui as histórias de Geraldo Magela Tavares sem que ele mesmo possa apresentar as suas versões, que agora estão guardadas para sempre.

 

Texto e edição: Ivan Elias – Toque de Bola

Depoimentos a Ivan Elias e Guilherme Fernandes

Fotos: Toque de Bola e arquivo Paulo Henrique Toledo

O Toque de Bola é administrado pela www.mistoquentecomunicacao.com.br

 

Ivan Elias

Ivan Elias, associado do Panathlon Club de Juiz de Fora, é jornalista, formado em Comunicação Social pela UFJF. Trabalhou por mais de 11 anos no Sistema Solar de Comunicação (Rádio Solar e jornal Tribuna de Minas), em Juiz de Fora. Participou de centenas de transmissões esportivas ao vivo (futebol, vôlei, etc). Apresentou diversos programas de esporte e de humor, incluindo a criação de personagens. Já foi freelancer da Folha de S. Paulo, atuou como produtor de matérias de TV e em 2007 e 2008 “defendeu” o Tupi, na Bancada Democrática do Alterosa Esporte, da TV Alterosa (SBT-Minas). Criou, em 2010, ao lado de Mônica Valentim, o então blog Toque de Bola que hoje é Portal, aplicativo, Spotify, Canal no Youtube e está no Twitter, Instagram e Facebook, formando a maior vitrine de exposição do esporte local É filiado à Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE) e Associação Brasileira de Cronistas Esportivos (Abrace).

Este post tem 5 comentários

  1. Lidia Emilia

    Gostaria muito de ver uma foto do Dario Mendes de Oliveira, na década de 60.

  2. Vania Tavares

    Venho parabenizar ao Ivan pela excelente reportagem e deixar o agradecimento de toda família, Ficamos enternecidos e agradecidos por tantas homenagens. Saber que nosso pai deixou um legado tão grande a esta cidade que tanto amou muito nos conforta. A cidade sim, perdeu uma enciclopédia mas nós, familiares, perdemos um grande amigo e um pai amoroso. A todos que se manifestaram nesta reportagem e aos que o admiraram durante sua trajetória de vida, o nosso muito obrigado . Aonde estiver, com certeza, estará mais feliz com estas homenagens.

  3. Eurico Moura

    Excelente matéria, reportagem, Ivan.
    Vou salvar com carinho.
    Não dá para acreditar, quando lembro, sinto como carijó, um enorme vazio. A cidade perde uma das últimas, talvez a mais antiga, referência deste futebol sofrido e desamparado e desprestigiado de Juiz De Fora.

  4. gleno rocha

    Gostaria de me juntar às homenagens ao grande Geraldo Magela, Mais Magela que Geraldo, para mim, lembrando dos grande embates que tivemos nos microfones das rádios Industrial e Nova Cidade (Nova Amizade), mas, e principalmente, pela cumplicidade e parceria nos muitos anos que convivemos lado a lado nos microfones, e nas grandes coberturas carnavalesca e política que ele coordenava com maestria.
    Mesmo afastado há alguns anos do rádio juizforano, creio poder afirmar, com segurança, que se assim já era quando ainda em vida, agora mais que nunca, fica uma lacuna incobrível, se me permite a ousadia do termo.
    Foi com enorme pesar que recebi a notícia de que o Magela nos deixou, mas nos deixando muitos ensinamentos Com ele, comecei minha trajetória no rádio esportivo, ainda nos tempos da Rádio Industrial, com o Ivan, Paulo Roberto Simão e Jair do Nascimento, e nas outras oportunidades, sempre procurei beber em sua fonte de sabedoria.
    À família Tavares, meus sentimentos e o pedido para que Deus esteja consolando seus corações, e ao Magela, meu obrigado, por tudo quanto me ensinou.

  5. Márcio Guerra

    Prezado Ivan:
    Obrigado por ter me inserido nesta linda homenagem que o portal presta ao querido Geraldo Magela. Felizes fomos nós que soubemos aproveitar da sua amizade e sabedoria para sermos seus discípulos.

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