São Paulo (SP), 4 de dezembro de 2011
A pedido do Toque de Bola, o jornalista Dudu Monsanto, formado na UFJF e um dos destaques dos canais de TV ESPN, fez uma crônica sobre o título brasileiro conquistado pelo Tupi em 20 de novembro. Dudu não se cansa de fazer várias referências ao clube carijó nos programas e nas transmissões que participa.
Por Dudu Monsanto
Faltam cinco minutos para a bola rolar em Recife. Estou em São Paulo, a quase três mil quilômetros da capital pernambucana, e procuro desesperadamente um jeito para acompanhar pela internet o jogo mais importante da história do Tupi. Já consegui sintonizar a Rádio Globo, e as vozes familiares de Ivan Costa e Ricardo Wagner começam a relatar tudo o que acontece no Arruda. A vontade de estar entre os quase 60 mil pagantes me corroi, mas crescer é entender que nem sempre o que a gente quer é possível.
Quem tem alma Carijó tem a pele calejada. Comecei a me apaixonar pelo time de Santa Terezinha ainda nos tempos de segundona mineira. Dava meus primeiros passos na Rádio Solar, em 1997, e transmiti aquele fatídico empate com o Nacional de Uberaba no Mário Helênio. A vitória garantia o acesso, e o jogo terminou sem gols. Choradeira no Municipal, que se repetiu na Série C do mesmo ano. Eram 64 clubes, e não é que o Tupi chegou ao quadrangular final? Melhor ainda: a três jogos do fim da competição, um pontinho bastava para chegar à Série B. E não é que os comandados de Jair Bala perderam para Francana, Sampaio Corrêa e Juventus? Trauma é pouco.
Era disso que eu lembrava quando consegui achar o sinal online da Rede Minas, que transmitia o jogo para os mineiros. Abaixei o volume e continuei ouvindo o Xodó da Galera. A vontade de acreditar no título era maior que tudo, mas as lembranças de outros tropeços históricos, como na Série C em 2003 (garfados contra o Bragantino) sempre vinham à mente. E lá estava eu em meu escritório em São Paulo, imerso em tudo o que acontecia no Arrudão. Rodrigo pegava tudo. Wesley Ladeira e Sílvio faziam um partidaço na zaga. E o primeiro tempo terminava sem gols. O título começava a parecer possível.
Eu tinha visitado Juiz de Fora dois dias antes e tinha recebido de presente do jornalista Wallace Mattos uma camisa do Galo autografada por todo o elenco que brigava para ser campeão brasileiro da Série D. Via o jogo com a camisa nas mãos, e me lembrava da emoção de ver uma volta olímpica do Tupi no Módulo II em 2001 e na Taça Minas de 2008. Nada que se comparasse a um título nacional. E pelos pés de Allan, jovem avô, ex-taxista e artilheiro em atividade, voltei a me emocionar com uma partida de futebol depois de longos anos. O grito de gol ecoou na selva de pedra, seguido pelo berro de “GAAAAAAAAAALOOOOOOO !!!”. Sãopaulinos, corintianos e palmeirenses devem ter se perguntado se algum atleticano maluco estava perdido por ali. Que Atlético nada…
Gritos que se repetiram ao gol de Henrique, e se juntaram às lágrimas de um homem que se fez repórter contando as glórias e agruras de um time quase centenário. O clube charmoso de uma cidade que vive sob a influência do Rio de Janeiro, mas que tem um time de verdade pra chamar de seu. Torcer pro Tupi é um privilégio que cada vez mais os juizforanos vão descobrir. Eu saí de Petrópolis pra ser enfeitiçado por esta mística, mesmo que as derrotas tentassem minimizar este sentimento. Agora, com o time na crista da onda, tomara que torcer pro Galo vire moda em Juiz de Fora.