Crônica: a inesquecível noite de Fabrício

O lateral Internacional saiu de si. Perto da área adversária, engatou ré. Ouviu “vai pra lá”. Gesticulou sem dó. Em tempos de seca e sol, enlouqueceu à Beira-Rio. Mandou o estádio inteiro ao mesmo lugar que a massa anônima sugeria que ele fosse. Cinquenta tons de raiva.

 

Fabrício literalmente "desequilibrou" no Beia-Rio
Fabrício literalmente “desequilibrou” no Beia-Rio

Bola em jogo

E, pasmem, o jogo estava em andamento quando a performance começou. Já viram o vídeo? Vale mais que mil palavras, com certeza.

Versão “oficial”

Alguém pode até tentar encarar o lado positivo de tudo. Ficaria assim:

“O raçudo lateral-esquerdo do Colorado levantou o público no estádio. Depois do sinal vermelho, sentiu-se à vontade e começou a se despir. Abraçado por vários companheiros, atravessou a avenida. A caminho dos camarins, anunciou, em gestual de maestro popular, sua despedida. Foi ovacionado de pé na arena, transformando mero e burocrático jogo de estadual em noite sem igual”.

Que passa?

O que se passou na cabeça de Fabrício? Não recebeu o aumento prometido? Problema com a mulher, os filhos, a sogra? Foi obra do empresário, do agente Fifa, do representante cafifa? Do Comendador?

Foi o sistema?

Fabrício pagou por algo, tem um comprovante, mas mesmo assim alguém o cobrou com torpedo de celular e whatsapp porque, quando pagou a conta, o sistema estava fora do ar? E perderam o registro de todos os protocolos daqueles quatro dias que ele ligou, 45 minutos na linha, e responderam que estava tudo certo, que ficasse  tranquilo e ignorasse o aviso de cobrança?

     Perda total

Ou Fabrício mudou seu plano de pacote de dados para economizar, esqueceu de conferir a primeira conta, e dois meses depois descobriu que a conta triplicou e alguém alertou que sua internet de fato não valia 0,5% do que estava sendo cobrado?  E que o prazo para reclamar já venceu? E que agora só daqui a um ano?

   “Vamos estar verificando”

Pode deixar, Fabrício. Eles vão estar providenciando ou vão estar se desculpando ou vão estar ignorando. Ah, e ainda devem pedir para você esperar na linha e responder à pesquisa de satisfação do atendimento.

Ninguém conseguiu acalmar Fabrício enquanto ele atravessava o campo e seguia a caminho do vestiário
Ninguém conseguiu acalmar Fabrício enquanto ele atravessava o campo e seguia a caminho do vestiário

Desabafo centenário?

Será que o colorado representava,ali, todos os jogadores do planeta que um dia, uma tarde, uma noite, foram xingados num campo de futebol e nunca responderam? Foi isso, Fabrício?

Em nome da categoria?

Estaria ele, naquela passeata de um só, defendendo a categoria dos laterais, normalmente os mais “elogiados”, pelas duas torcidas, e até pelos treinadores, só porque são o alvo mais próximo?

Quem saberá?

Os motivos verdadeiros do “momento Fabrício” talvez nunca sejam revelados. Certo é que testemunhamos um desabafo apoteótico, apocalíptico. Politicamente incorreto, sem tempo de tirar crianças ou o “belo sexo” da sala ou da frente do computador ou da cara enfiada no dispositivo móvel.

De um modo ou de outro, Fabrício arrasou.

 

Texto: Ivan Elias

Fotos: Gazeta Press

 

 

 

 

Este post tem um comentário

  1. Eurico Moura

    O odiado Henrique, perto deste episódio, é um SANTO. E olha a diferença de torcida. O Fabrício mandou todo mundo…… hehehe

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