Dedicação, treinamento e talento. Essa fórmula fez com que dois jovens de Juiz de Fora conquistassem resultados expressivos nos Jogos Escolares da Juventude, este ano, em Fortaleza. João Victor Macedo, de 14 anos, medalhista de ouro nos 100 metros com barreiras e bronze no salto em distância, e Noemi Alves, 14 anos, prata nos 1000 metros rasos, garantissem suas vagas nos Jogos Escolares Sul-Americanos, que serão realizados no Paraguai, em dezembro. Os dois contaram ao Toque de Bola como foi a caminhada até alcançar esses títulos e a expectativa para o futuro no esporte.

  Evolução através do trabalho

Os dois atletas representaram o Colégio Apogeu na competição nacional. Ambos treinam todos os dias no Complexo Esportivo da Universidade Federal de Juiz de Fora, através do projeto CRIA/UFJF (Centro Regional de Iniciação ao Atletismo), que teve início na cidade de Lavras e está em Juiz de Fora há três anos sob a coordenação de Jorge Perrout. O hoje treinador do João, Danilo Leonel, destacou o trabalho realizado pelos técnicos anteriores para a formação dele: “Eu entrei no projeto há um ano e recebi um trabalho muito bem realizado pelo Ramon Cruz, antigo treinador, que deu todo o aporte para que eles chegassem a esse nível de competição, porque é um processo longo e toda a equipe que faz parte é importante. A expectativa é que ele vá bem no Sul-Americano e, que no futuro, ele possa chegar bem na idade adulta, no auge do seu potencial”, conta.

O coordenador do projeto CRIA UFJF, Jorge Perrout, destaca a importância dessas conquistas como prova da evolução do trabalho desenvolvido: “É muito representativo porque são nossos primeiros títulos em nível nacional. Começamos o trabalho com crianças a partir dos cinco anos, e esses resultados provam a evolução”, declara.

Perrout ainda explica como funciona a divulgação do projeto e a capitação de crianças e jovens para a participação: “O projeto é aberto para todos a partir dos cinco anos de idade. Nós fazemos uma parceria com as escolas do entorno da UFJF, convidando para passarem uma manhã nos treinamentos ou levando até as escolas os equipamentos do esporte. O atletismo é muito pouco divulgado e, às vezes, as pessoas acabam achando que é uma coisa lá da Jamaica ou do Quênia, e não sabem que tem um trabalho aqui perto. Então essa divulgação e parceria são importantes”, comenta.

  Das ruas para as pistas

O menino tímido com as palavras se transforma na pista. Apesar de um treinamento leve pós-conquista, a desenvoltura de João Victor impressiona. Ele conheceu o projeto através do Ranking de Corridas de Rua. Participava das provas infantis e foi convidado para treinar atletismo. O atleta, que já havia disputado os Jogos Escolares da Juventude no ano passado em Londrina-PR, não aproveitou as praias de Fortaleza, capital cearense, mas conseguiu entrar para a história como o primeiro vencedor da prova dos 100m com barreiras: “Lá o tempo não estava muito bom para ir à praia, ventava muito e eu também estava mais focado na competição. O nível de disputa estava bastante elevado, ano passado a prova com barreiras foi só de 80 metros e não fui bem, mas esse ano consegui um bom tempo, conquistar essa medalha e a vaga no Sul-Americano”, comemora.

O clima foi fator predominante também para o desempenho de João no salto em distância: “A prova de salto foi mais complicada. Estava chovendo e ventando muito na hora dos saltos e isso atrapalhou as minhas tentativas. Acho que poderia ter ido melhor se o tempo estivesse firme”, revela o garoto, que ficou com a medalha de bronze nessa prova.

 

  O dia a dia do campeão

O menino de 14 anos tem uma rotina puxada. Treina todos os dias pela manhã, estuda à tarde, além de revisar a matéria a noite. João conta que o incentivo da família é muito importante para ele e que seus professores não aliviam no material só por ele ser um campeão: “Meus familiares ficaram muito orgulhosos com as minhas medalhas porque eles sabem da minha dedicação nos treinos e até porque alguns deles participam de provas de corrida de rua, como a minha tia Maria Clara, minha madrinha, Maria Inês, e meu primo Bruno. Na escola a rotina é puxada. Para disputar o campeonato, tive que perder algumas provas, e agora tenho que estudar dobrado para fazer as segundas chamadas”, explica.

“Achava que não daria em nada”

Noemi chegou ao projeto através de uma exibição de atletismo no seu antigo colégio, a Escola Estadual Fernando Lobo, e então iniciou nos treinamentos. E graças a eles, segundo ela, conquistou a medalha de prata: “Comecei a treinar e achava que não iria dar em nada, mas fui evoluindo, conquistando resultados e isso foi me dando confiança. Devo muito ao esforço e dedicação diária nos treinos. Ano passado em Londrina meu desempenho não foi tão bom, mas este ano estava na expectativa de conquistar uma medalha e consegui. A sensação foi maravilhosa e toda minha família ficou muito feliz, principalmente o meu irmão mais velho, Neemias. Foi o que mais acreditou em mim, que me incentiva a treinar mesmo quando estou um pouco desanimada. Diferente do João, eu tentei aproveitar a cidade, mas não tive muito tempo. O máximo que consegui conhecer de Fortaleza foi um pedaço da orla, mas era noite e nem pude entrar no mar”, declara a sorridente Noemi.

 

  Expectativas 

Ambos estão agora se preparando para o Sul-Americano. João Victor em outubro participará de uma competição de pentatlo, que envolve as provas de salto em altura, arremesso de peso, 800 metros rasos, 100 metros com barreira e o salto em distância, visando a preparação para a competição no Paraguai. Eles não conhecem os adversários internacionais mas mesmo assim estão otimistas em alcançar bons resultados: “Vai ser muito importante para a gente essa competição. Para conhecer o nível internacional e ver como nós estamos. Ajudará bastante no nosso desenvolvimento e vamos com fé em conseguir medalhas”.

O sonho de vida dos dois dentro do esporte é o mesmo, e ambos sonham alto: “Sem dúvida conquistar uma medalha olímpica ou mundial para o Brasil seria o auge da carreira”, finalizam.

 

Reportagem: Guilherme Fernandes, estagiário do Toque de Bola, com supervisão de Ivan Elias

Fotos: Toque de Bola

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