Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Todos os dias, milhares de garotos se dedicam ao máximo dentro das quatro linhas em busca desse objetivo. Em Juiz de Fora não é diferente. Três meninos do Projeto de Extensão de Futebol da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) deram o primeiro passo em suas carreiras ao serem observados e pré-selecionados para uma avaliação no Cruzeiro. Vinicius e Lucas, de 12 anos, já passaram pela Toca da Raposa I e Yago está na expectativa de passar um período de treinos em Belo Horizonte.
O Toque de Bola foi até a Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) conhecer as trajetórias dos jovens atletas.
Tamanho não é documento
Vinicius Mota Lopes, atacante, morador do bairro Santo Antônio é o menor da turma. Quem olha de longe pode não botar muita fé no garoto no meio dos grandalhões, mas quando a bola rola ele mostra o seu valor. Criado nas quadras do Sport desde os 8 anos de idade, o menino ingressou no projeto na UFJF em 2014. Ele conta sua trajetória e como foi sua experiência na avaliação na Toca da Raposa I: “Meu pai leu sobre o projeto e me trouxe para cá. Eu jogava futsal desde os 8 anos no Sport, hoje treino lá no Sesi com o Ivan Gal. Em 2013, passei a jogar futebol no Sport e ano passado vim para a Federal. Foi muito bom ser selecionado pelo Cruzeiro e acredito que isso pode ser o primeiro passo para realizar o meu sonho de ser um jogador de futebol. Ir lá em Belo Horizonte jogar foi uma experiência igual e diferente, porque os meninos são muito grandes, não é como em Juiz de Fora, pareciam todos terem uns 17 anos, mas na prática é só jogar bola”, disse o pequeno, que é fã de Cristiano Ronaldo.
Em casa, Messi x CR7 é debate
O pai de Vinicius, Glauber Mota Lopes, conta que segue os passos do garoto desde sempre e como conversa com ele sobre a difícil missão que é se tornar um jogador profissional: “Acompanho desde sempre os treinamentos, o incentivo a buscar o seu sonho e mesmo sabendo do potencial que ele tem, converso muito para que ele também busque outras alternativas até mesmo na área de esportes que ele gosta. A gente sabe que é muito difícil se tornar profissional, o próprio professor Marcelo Matta trabalha isso com eles. Mas sempre o incentivando a seguir em busca do seu sonho pelo potencial que vemos nele, tendo em mente sempre uma segunda opção, caso não dê certo. Foi muito gratificante saber que meu filho foi selecionado pelo Cruzeiro, espero que quando ele voltar para lá, ele possa se manter e realizar o sonho dele”, explica.
Glauber ainda descreve como é o comportamento de Vinicius em casa, jura que não influenciou seu filho a ser flamenguista como ele, e que os dois travam debates sobre quem é melhor: Messi ou Cristiano Ronaldo: “Eu sou Flamengo, mas não influenciei o Vinicius a ser. O Mateus, meu filho mais velho, é Cruzeiro. Se ele escolhesse outro time teria total liberdade. O Vinicius é muito ligado em futebol: 90% do dia dele são relacionados a futebol, desde o vídeo game até os jogos na TV, ele acompanha tudo. Desenha esquema tático e tudo mais. Eu fico brincando com ele, porque ele gosta do Real Madrid e do Cristiano Ronaldo e eu, do Barcelona e do Messi, ai ficamos debatendo sobre quem é melhor. Ele respira futebol, observa todos os movimentos desses jogadores que atuam na Europa para poder tentar fazer igual, e acho que isso o ajuda a evoluir”, comentou.
De volta ao projeto da UFJF, Vinícius tem seus passos monitorados pelo Cruzeiro.
Polivalência é o trunfo
Outro pré-selecionado pelo Cruzeiro foi Lucas Thiago dos Santos, morador do bairro São Pedro. O garoto que atua tanto como lateral-esquerdo, como volante tem enorme facilidade para chutar com as duas pernas e se inspira no espanhol Iniesta. Ele revela que antes de começar a treinar na UFJF estava parado por três meses, que sentiu um pouco de dificuldade nos primeiros dias dos treinos na Toca da Raposa I e que se não conseguir ser jogador, quer trabalhar com Educação Física: “Eu treinava no Centro de Futebol Zico (CFZ), mas parei por três meses. Então surgiu o projeto da UFJF e meu pai me trouxe para ser avaliado, passei no teste e comecei a treinar aqui. Nunca treinei futsal, sempre gostei de futebol. Atualmente acompanho a Liga dos Campeões da Europa e torço pelo Barcelona e para um jogador que me inspira que é o Andrés Iniesta. Essa experiência no Cruzeiro foi muito boa, lá a estrutura é muito boa, mas também gosto muito da daqui. No começo gostei muito do local do treino, mas nos primeiros dias eu senti um pouco de dificuldade com o tamanho e o porte físico dos atletas de lá. Só que com o passar dos dias fui me desenvolvendo e consegui atuar bem. Espero me tornar um jogador de futebol e meu pai me apóia muito, ele não pode estar nos treinos, mas vai a todos os jogos. Sei que a carreira de jogador é muito difícil e, caso não consiga realizar esse sonho, pretendo me formar em Educação Física para trabalhar com o futebol”, revelou.
Futebol vem de berço. Danilo é exemplo
Flávio Ferreira dos Santos, pai do Lucas, é atleta amador de futebol, disputa competições locais como a Copa JF e a Copa Bahamas pelo Cidade Alta, categoria Master, e diz que a paixão de Lucas pelo futebol vem desde pequeno: “A relação do Lucas com o futebol vem desde cedo, até por influência minha. Ele tentou começar como atacante, assim como eu, mas quando ele começou a se deslocar para o lado esquerdo, eu vi e conversei com ele que teria potencial para atuar nessa posição, ele gostou também e está indo bem na lateral e também como volante”.
Flávio explicou qual o sentimento de ver seu filho pré-aprovado por um grande clube e que também conversa muito com ele sobre a perspectiva de futuro: “Quando recebemos a notícia, foi motivo de muita alegria. Se ele tiver que se mudar não vejo nada que possa atrapalhar, porque tanto eu como a minha esposa gostamos de futebol e daremos o suporte necessário para ele conseguir realizar seu sonho. Porém conversamos com ele também da dificuldade que existe que muitos garotos também almejam se tornarem profissionais, e por isso, deve conciliar o futebol com os estudos, e vamos trabalhando na cabeça dele para que, se não der certo dessa vez, não se decepcione e continue se dedicando no mesmo jeito. Temos o exemplo do Danilo, que saiu daqui de Juiz de Fora e hoje joga na Seleção Brasileira, isso sem dúvida, é um grande sonho”, declarou.
Lucas também já está de volta ao projeto da UFJF, na expectativa de novas oportunidades em um grande clube do futebol brasileiro.
Interesse gera motivação
O treinador do sub-13, Thadeu Rodrigues, de 22 anos, trabalha com Vinicius e Lucas na UFJF e os acompanhou nas atividades no Cruzeiro e explica que o objetivo dos treinamentos é de sempre potencializar ao máximo o desenvolvimento dos atletas e que também conversam sobre a realidade estatística relacionada a profissão: “A gente tenta nos treinos potencializar o máximo para que eles possam se desenvolver, principalmente nos aspectos táticos e técnicos. De certa forma, temos um grupo muito bom nessa categoria e, no caso, os dois foram o que mais se destacaram para o observador do Cruzeiro. E nós sempre passamos a informação estatística que só 0,3% dos atletas se tornam jogadores profissionais, tentamos explicar isso para eles, que nem tudo é como eles vêem na televisão, que eles veem a parte boa. E nisso ajudamos na parte social, que eles podem ter uma vida digna sem ser no futebol, incentivando também que eles se capacitem fora do campo. Mas também não deixamos de estimulá-los em busca do sonho deles, mas sempre procurando uma alternativa”, destacou.
Thadeu conta que a vinda dos representantes de grandes clubes para conhecer o projeto motivou ainda mais os garotos e que não houve nenhum tipo de comportamento diferenciado com os que foram selecionados após a visita: “Durante os três dias que o observador do Cruzeiro esteve aqui, eu senti os meninos muito motivados, querendo mostrar o seu potencial. Ele acompanhou um treinamento nosso e um jogo contra a Escola do Botafogo, lá no campo do São Carlos. Depois disso, selecionou o Vinicius e o Lucas. Não vi nenhum tipo de ciúme nos outros garotos em relação a isso, só incentivo. E os dois também não mudaram em nada, continuaram treinando da mesma forma e se comportando normalmente”, comentou.
Expectativa e ansiedade
Para Yago Vitor da Silva, atacante, morador do bairro Dom Bosco, a expectativa e ansiedade para a avaliação no Cruzeiro só aumentam. O garoto de 14 anos tem Robinho e Neymar como referências. Ele conta como chegou no projeto e que ficou surpreso ao ser selecionado pelo clube da capital: “Cheguei ano passado aqui no projeto da UFJF, antes jogava no Dom Orione com o professor Rafael Monteiro. Ser selecionado pelo Cruzeiro é uma experiência nova, fiquei muito surpreendido de um dia para o outro ser escolhido. Espero ir lá e fazer o meu melhor para conquistar minha vaga no clube”, concluiu.
Yago iria a Belo Horizonte no final do mês de maio, mas não foi possível deixar a cidade na data programada. De acordo com os coordenadores do projeto da UFJF, ainda há chances de ele buscar uma vaga nas divisões de base do Cruzeiro.
Texto: Guilherme Fernandes, estagiário, com supervisão de Ivan Elias – Toque de Bola
Fotos: Toque de Bola
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