O juiz-forano Patrick Roberto da Silva Campos, 18 anos, entrou para a história do Palmeiras ao marcar, na tarde desta quarta-feira, dia 25, no estádio do Canindé, em São Paulo, o gol do bicampeonato invicto – nove jogos e nove vitórias – da Copinha, a Copa São Paulo de Futebol Júnior, aos 47 minutos do segundo tempo, de cabeça, depois de escanteio da direita e bola desviada na zaga. O gol valeu ainda o título de “Craque do Jogo” ao canhota juiz-forano.
A partida teve excelente nível técnico, foi bastante equilibrada com as duas equipes criando boas chances de gol e estava empatada em 1 a 1. Patrick entrou no intervalo, com a camisa 28. Na etapa inicial, Ruan Ribeiro abriu o placar para o time paulista e Renato Marques empatou para o Coelho.
Mesmo tendo chegado somente em julho do ano passado, o juiz-forano já contabilizava os títulos, no Palmeiras, do Campeonato Brasileiro Sub-20 (2022), Copa do Brasil Sub-20 (2022) e CEE Cup Sub-19.
O Toque de Bola conversou com a mãe de Patrick, Vânia Maria da Silva, com o seu primeiro treinador em Juiz de Fora, Anderson Lima de Sá, e com treinadores e profissionais de futebol para apresentar detalhes exclusivos da trajetória do atleta, desde os 8 anos de idade.
Pode parecer incrível, mas com apenas 18 anos de vida as histórias de Patrick são muitas, até chegar a este momento histórico: estar vestindo a camisa de um grande clube numa final de Copinha cobiçada por 128 clubes, entrar durante a decisão e marcar o gol do título, já nos acréscimos do segundo tempo diante de um estádio lotado.
É o relato da mãe, Vânia, que se entrega para tentar concretizar o sonho do filho, que, em meio às dificuldades, já vestiu camisas de clubes como Cruzeiro e Flamengo e escapou do fatídico incêndio que matou dez atletas das divisões de base do clube do Rio de Janeiro – ele foi dispensado pouco antes e estaria provavelmente concentrado no local que pegou fogo.
O desânimo e o capricho do destino
“Quantas vezes ele já ficou desanimado e disse que estava pensando em parar”, conta Vânia. Ela revela, ainda com emoção, o fato de o período de Patrick nas categorias de base do Flamengo ter se encerrado muito pouco tempo antes do acidente que tirou a vida das promessas do clube. “Diziam que ele não estava rendendo bem, mas ele estava sim”, garante, referindo-se à dispensa do garoto pelo clube rubro-negro, segundo ela cerca de um mês antes da tragédia, ocorrida em 8 de fevereiro de 2019.
Depois que saiu do Flamengo e passou por Volta Redonda (sub-15) e um curto período no Cruzeiro (sub-17) , foi na Ferroviária de Araraquara (SP), segundo a mãe dele, que o jogo começou a virar para valer. “Eles decidiram ficar com ele, e lá ele chamou a atenção do Palmeiras”, afirma Vânia, que conversou por telefone com Patrick, naturalmente ainda eufórico, minutos depois da festa no Canindé na tarde de quarta-feira, dia 25.
Quem é ele
Nascido em 19 de março de 2004, no bairro Santa Rita, em Juiz de Fora, Patrick assinou, em julho de 2022, aos 18 anos, contrato de três anos com o clube alviverde, depois de uma passagem pela Ferroviária (SP). Teve também uma passagem na base do Volta Redonda e do Cruzeiro. Mas e até chegar lá, como foi?
Anderson Sá, diretor hoje do Grupo ABC, que tem escolinhas, conta que se lembra da chegada do ainda garoto que não gostava de ser corrigido nos treinos, ainda no clube Montesinas, onde funcionava a Escola Oficial do Botafogo em Juiz de Fora.
“Patrick chegou para treinar com a gente muito cedo. Era no (clube) Montesinas ainda. Chegou lá no sub-9, nasceu em 2004. Sempre teve um gênio bem difícil. Melhorou muito. Se o corrigíssemos, ele ficava nervoso, queria ir embora… O tempo foi passando, ele foi amadurecendo, melhorando. E sempre fazíamos avaliações aqui em Juiz de Fora trazendo observadores dos clubes para verem nossos alunos. E vários observadores que vieram a Juiz de Fora gostaram dele.
Fotos do arquivo da Escola Oficial do Botafogo – Clique para ampliar a imagem
Botafogo x Flamengo
“Aí um observador do Botafogo veio a Juiz de Fora, gostou muito e queria levá-lo ao Botafogo”, conta Adnerson. “Meses depois veio um observador do Flamengo. Foi até em Lima Duarte isso. E começamos a estudar qual seria a melhor proposta para o Patrick. Mesmo nós sendo da Escola Oficial do Botafogo nós tínhamos que pensar no Patrick. No menino, no sonhador, querendo ser jogador. E na época o Botafogo estava numa situação financeira precária, não tinha condições de manter o Patrick lá. Mas ele foi aprovado nos testes nos dois clubes, tanto no Botafogo como no Flamengo (na época, Vitor Aurélio no Botfogo e Thiago no Flamengo eram os observadores). Disse a eles que alguém precisaria dar uma ajuda ao Patrick para ele ir treinar no Rio de Janeiro. Uma ajuda de custo, e aí perguntei “quem pode ajudar o Patrick?”
“O Vitor disse que o Botafogo não tinha como resolver porque o Patrick teria que mudar para perto do (estádio) Caio Martins (em Niterói), e treinar lá. No Flamengo, o Thiago conseguiu na época conversar com a diretoria, para ajudá-lo pelo menos na alimentação. E com o passar do tempo, acreditava que daria também uma ajuda de custo. Passamos a situação para a família e ele acabou optando pelo Flamengo. Fomos ao Rio (de Janeiro) com Patrick e a mãe dele, encontramos um lugar para ele ficar no Rio.”
Nessa definição pelo Flamengo, Anderson conta que “Victor ficou “bolado” porque eles fizeram uma selfie “e o Thiago, do Flamengo, agradeceu ao Victor (eram conhecidos) pelo jogador e ele me cobrou. Mas não podia pensar em mim. Eu precisava trazer o Patrick para algum lugar, ele precisa evoluir. Em Juiz de Fora, por mais que ele treine, e nossos treinamentos são bons, não é o mesmo nível daqui (clube do Rio de Janeiro)”. Depois, segundo Anderson, o observador do Botafogo, acabou entendendo que seria a melhor alternativa, para o garoto, naquele momento, ficar no Flamengo”.
Anderson conta ainda que em determinado momento Patrick treinou no Sport Club Juiz de Fora e até disputou uma final contra a Escola Oficial do Botafogo, voltando depois ao convívio dos seus antigos companheiros. Para o treinador, o papel de Vânia foi fundamental para que Patrick persistisse em busca do sonho de vencer no futebol. “Sempre fez tudo por ele”, diz ao Toque de Bola.
A mãe do campeão, por sua vez, afirma que é muito grata ao Botafoguinho pelo apoio desde os primeiros passos nas escolinhas.
Mais clubes
O campeão da Copinha também já defendeu, no campo, entre outros, o Guaporé e o Bom Jardim.
Conversamos com desportistas que treinaram ou foram adversários dele em confrontos das categorias de base juiz-foranas e sobraram elogios.
No Sport, Digão Coimbra disse que teve convívio curto no campo e lembrou a trajetória dele, a ida ao Flamengo e a volta a cidade. Revela que, no futsal, Patrick atuava como ala.
O treinador Wesley Assis, hoje de volta às categorias de base do Tupi, disse que já encarou Patrick como adversário e elogiou seu desempenho.
Já Edvaldo Alves, ex-jogador do Sport e hoje treinador, lembra com orgulho que Patrick já vestiu a camisa do Bom Jardim.
Fotos de Patrick no Flamengo – Clique para ampliar a imagem
Números
De acordo com o site O Gol, que considera a carreira de Patrick a partir do sub-15 do Volta Redonda, em 2019, passando por sub-17 do Cruzeiro e da Ferroviária, ambos em 2021, sub-20 da Ferroviária e do Palmeiras nas temporadas 2022 e 2023, o juiz-forano soma 46 partidas disputadas e seis gols – o detalhe é que no Cruzeiro não constam jogos e gols de Patrick.
Conforme a mesma publicação, na campanha invicta do Palmeiras na Copinha, o volante só não entrou em campo na segunda partida – vitória sobre o América-SP por 3 a 1.
Nas outras partidas, os minutos de Patrick em campo foram os seguintes:
Estreia – adversário: Juazeirense – entrou no segundo tempo e atuou por 11 minutos – Palmeiras 2 a 0.
Jogo 3 – adversário: Rio Preto – atuou o tempo inteiro. Palmeiras 2 a 1.
Jogo 4 – adversário: Sampaio Corrêa – entrou no segundo tempo e atuou por 28 minutos – Palmeiras 6 a 0
Jogo 5 – adversário: Juazeirense – entrou no segundo tempo e atuou por 14 minutos – Palmeiras 4 a 0
Jogo 6 – adversário: Mirassol – entrou no segundo tempo e atuou por 30 minutos – Palmeiras 4 a 0
Jogo 7 – adversário: Floresta-CE – entrou no segundo tempo e atuou por 14 minutos – Palmeiras 5 a 0
Jogo 8 (semifinal) – adversário: Goiás – entrou no segundo tempo e atuou por 2 minutos – Palmeiras 2 a 1
Jogo Final – adversário: América Mineiro – entrou no segundo tempo e atuou por 45 minutos mais os acréscimos- Palmeiras 2 a 1
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola
Fotos: Fábio Menotti – Palmeiras, Alexandre Battibugli/Ag. Paulistão, arquivo Escola Oficial do Botafogo e arquivos pessoais Anderson Lima de Sá