Caros e caras, foi curioso ver, na última semana, a gritaria que muita gente por aqui arrumou por conta da criação da Superliga Europeia. Clubes do Velho Continente se juntaram e anunciaram uma competição entre si, com o apoio financeiro de um banco americano.
Sem critérios técnicos ou garantia de acesso a outros clubes, 12 das maiores agremiações do planeta queria criar uma espécie de camarote vip do futebol. Por conta das reações, principalmente de torcedores dos próprios fundadores, não durou muito. Aliás, quase nada. Ainda não foi desta vez.
Dinheiro manda
Digo “ainda” porque o dinheiro já manda no futebol há muito tempo. Clubes europeus – muitas vezes financiados com grana de origem pra lá de duvidosa – concentram renda há anos e se tornaram seleções mundiais desde a Lei Bosman, em 1995, e seus efeitos pelo mundo.
Agora, cobram mais dinheiro da UEFA e Fifa – que faturam bilhões com o esporte – para jogar. Querem apostar no certo, no rentável, nos jogos que o mundo quer ver. A tendência é caminhar na direção desse clubinho vip. A meu ver, é inexorável.
Pior pro torcedor
A tendência, pelas regras brutais do capitalismo, é quem tem mais grana mandar. E quem tem dinheiro quer lucro certo. As variáveis esportivas da UEFA e Fifa, representadas por jogos com clubes “menores” e possibilidade de ausência em competições, são riscos a serem eliminados para o capital, principalmente americano.
Nesta guerra entre entidades federativas e clubes, quem sempre perde é o torcedor. Não falha nunca.
Futebol de verdade
Mas, como costumo dizer, futebol europeu não é o de verdade. É só assistir. Sempre parece que estamos vendo um filme, um jogo de videogame. Tudo perfeito, do campo ao cabelo dos jogadores, passando pelas tatuagens e chuteiras ultramodernas.
Nem mesmo as Séries A e B do Brasil são exemplos do esporte realmente. Por aqui, o futebol de verdade está das séries C e D do Brasileiro para baixo. Especialmente nos estaduais, onde a enorme massa de trabalhadores da bola é empregada. Sem contar os envolvidos assessórios como nós da imprensa.
Milhares de profissionais se viram em clubes que estão à margem das grandes receitas do futebol nacional. Vivemos uma espécie de Super Liga no Brasil.
Milhões e migalhas
Só para ficar no exemplo de “casa”, no Campeonato Mineiro, Cruzeiro e Atlético recebem pouco mais de R$ 14 milhões pelos diretos de transmissão, e o América cerca de R$ 4 milhões. A diferença do montante estimado recebido pelos clubes do interior, de R$ 1 milhão, é brutal.
O exemplo se repete Brasil afora, e nas divisões nacionais. Clubes grandes faturam milhões – alguns já esbarrando no bilhão – turbinados pelos diretos de TV. Migalhas são jogadas à maioria das equipes do país.
Concentração garante camarote
Assim, a concentração de renda para os maiores clubes assegura que o cercadinho vip se perpetue por aqui. Ainda que isso esteja matando os clubes menores. Mas pouco se vê de crítica em relação a isso. Quanto mais a gritaria como foi a de torcedores e colegas jornalistas revoltados com a Superliga Europeia.
Não precisamos gritar contra o fim do futebol na Europa. Temos nossa própria quase extinção em massa da bola ocorrendo por aqui. Se não pensarmos maneiras de resolvê-la, só vai sobrar quem tem pulseirinha com cifrão mesmo!
Texto: Wallace Mattos – Toque de Bola