O futebol de base juiz-forano volta a ter representatividade no Campeonato Mineiro infantil e juvenil. Em parceria sacramentada e ambiciosa, a Associação Esportiva Uberabinha e o Centro de Formação de Jovens Futebolistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (Cefor-UFJF) trabalham a todo vapor no campo da Faculdade de Educação Física e Desportos da Federal (Faefid) com jovens nascidos entre 1999 e 2002, projetando as participações das equipes sub-15 e sub-17 na segunda divisão do Estadual, a partir de abril.
O Toque de Bola conversou com alguns dos responsáveis pela nova sociedade que contaram a história, metas e admitiram o sonho do futebol profissional.
A parceria
O professor de futebol Sérgio Eduardo – o Dudu do Uberabinha – e o coordenador do projeto de extensão da UFJF e também professor da modalidade na Faefid, Marcelo Matta, iniciaram as tratativas: “Um amigo nosso em comum, o Luiz Carlos, intermediou um bate-papo de uma futura parceria e começamos a costurar. A Federal entra com a estrutura e boa parte dos profissionais, o Uberabinha entra comigo e com parte dos recursos e estamos correndo atrás de parceiros para que o projeto possa ter uma sequência maior no futuro”, contou Dudu.
As disputas no Mineiro juvenil e infantil eram o primeiro objetivo mútuo. A principal meta, no entanto, é ousada: “A UFJF tem um projeto, a perspectiva de trabalhar juntos e, se possível, daqui a oito anos possuir uma equipe profissional. Para que aqui seja um centro de treinamento de referência de jovens jogadores, temos que aumentar o nível de competitividade. Como a UFJF não é filiada à FMF, o que é difícil fazer, a procura de parceiros foi uma opção nossa, ou iríamos estacionar. Não somos clube. Há um rol de exigências para a filiação. E a UFJF é muito grande. Percebemos que não era o melhor caminho e hoje a Faefid te permite utilizar de experiência de outros projetos tal qual o voleibol é um modelo de vermos o que acontece. Então procuramos parceiros. O Uberabinha é filiado à Federação, com todas as certidões negativas, ganhou prêmio de melhor associação de futebol amador de Juiz de Fora no ano passado, o Dudu é professor de Educação Física especializado em Futebol na Universidade Federal de Viçosa, ou seja, tem um pensamento semelhante aos nossos. Surgiu a possibilidade da gente juntar e vamos tentar caminhar juntos. Ele tem a vaga, dificuldade em infraestrutura e vontade de crescer. A UFJF tem estrutura, conhecimento técnico-científico e vontade de crescer. Então vamos juntar”.
A parceria vai trabalhar em duas categorias: a infantil, com meninos nascidos a partir de 2001, e o juvenil, com meninos nascidos em 1999 e 2000. As comissões técnicas já estão formadas e trabalhando. Na sub-15, Dudu é o treinador, Bruno Proton o auxiliar técnico, João Gabriel Gerheim o preparador de goleiros e Rodrigo Lamas o preparador físico. Já o elenco sub-17 vem sendo comandado por Alex Nascif com o auxiliar Wellington da Matta, além do preparador de goleiros Luiz Carlos e do preparador físico, Guilherme Acácio. Eduardo Kaehler, aluno da Faefid, será o analista de desempenho nas duas categorias.
“Temos oito acadêmicos de Educação Física envolvidos no projeto de extensão. Cinco bolsistas remunerados pela UFJF e três atuando como bolsistas voluntários que também são reconhecidos pela pró-reitoria de extensão e está no currículo. E constantemente existem meninos fazendo estágio conosco”, reitera Marcelo Matta. Há, ainda, sempre um direcionamento dos jovens que sofrem lesão durante as atividades.
Processo de seleção
O Uberabinha/UFJF anunciou nesta terça-feira, 16, nova oportunidade aos interessados em fazer parte das equipes infantil e juvenil. Nos sábados, 20 e 27 de fevereiro, o campo da Faefid receberá a partir de 15h uma seletiva. Para que o aluno seja avaliado pelas comissões técnicas, basta enviar email para alexnascif@gmail.com, preencher a ficha de inscrição de resposta e levar no dia do evento acompanhada da carteira de identidade.
Trabalhos mantidos
Os projetos da UFJF e Uberabinha, com equipes em outras faixas etárias, seguem sendo realizados paralelamente, cada um em sua sede (Faefid e Cerâmica).
Cefor-UFJF
Em abril, o projeto da UFJF completa dois anos de estudos e trabalhos. As equipes da Federal já acumulam, mesmo neste curto período de vida, resultados de destaque como os vice-campeonatos da Copa Bahamas 2014, no mirim, e no Campeonato de Base da Liga de 2015, no sub-13 e sub-15.
“O projeto é de extensão, que tem vários objetivos acadêmicos e esportivos, de oportunizar uma formação para esses meninos da cidade e principalmente do entorno da UFJF. Para os acadêmicos, é um campo de aplicação teórico-prático, de estágio. Podem também fazer pesquisas de TCC. Tal qual existe o Hospital Universitário, onde os acadêmicos da saúde podem aplicar seu conhecimento, fazer pesquisas e estágio, e tal qual existe o João XXIII onde os cursos de licenciatura da UFJF aplicam seus conhecimentos, na área esportiva, a Faculdade de Educação Física tem a necessidade de projetos dessa dimensão para nossos alunos, como os de Fisioterapia e Comunicação Social que vêm aqui, ou seja, é um projeto que vai atender àqueles cursos que tenham dimensão esportiva como instrumento de trabalho. Um dos objetivos do projeto é criar um centro de treinamento na formação de jovens futebolistas para atender ensino, pesquisa e extensão principalmente dos alunos de Educação Física”, explica Matta.
Uberabinha
História não falta para esta associação esportiva. Em 2016, o trabalho de base do Uberabinha completa 19 anos de conquistas, como lembra Dudu: “Conquistamos vários campeonatos em Juiz de Fora. Somos pentacampeões no juvenil e tetra no infantil da Copa Bahamas, já ganhamos Base da Liga, enfim, temos muitas conquistas. E o Mineiro veio para nós em 2012, em uma parceria com o Jorge Bug, onde ele tocava o juvenil com o nome do Uberabinha e eu com o infantil. Classifiquei para a terceira fase do Estadual, algo que até então nunca uma equipe da Zona da Mata havia conseguido na infantil. Tornamos a disputar o Mineiro em 2013, mas em voo solo no infantil e juvenil. Não fomos bem porque é muito caro, não foi legal. Em 2014 voltamos a disputar com o Jorge e ano passado voltei do Haiti e não foi possível participar”, contou.
Taça BH
Segundo Matta, a UFJF já trabalha também em seu planejamento com a possibilidade de sediar novamente a Taça BH de Futebol Júnior, podendo trazer algumas das maiores equipes de base do país: “Esse ano fomos convidados diretamente pela Federação Mineira de Futebol para ser o organizador, ter esse produto em Juiz de Fora”, adiantou.
Empresários bem-vindos: “Terá que ser parceiro do projeto”
Em caso de destaque de algum atleta, seja ele vindo de outro clube ou de um empresário, o Uberabinha/UFJF não descarta parcerias se houver retorno à equipe: “A partir do momento em que o Uberabinha registrar esses meninos na Federação Mineira, já tem um pedacinho dos direitos econômicos deles, porque auxiliou na formação. Isso caso algum jovem venha ascender ao profissionalismo e seja transferido. Clássico hoje é o Danilo (Real Madrid) com o Tupynambás. Acima dos 16 anos você já pode fazer o primeiro contrato profissional. E está difícil do empresário atuar porque o clube hoje detém os direitos econômicos e federativos. O que faz o empresário é tentar negociar com o clube um percentual daquele valor, de até 7%. É o que está na lei. A saída dos empresários hoje é a de formar o clube. Eu, Dudu e Alex já conversamos e, se algum empresário quiser usar aqui como parceria, não vejo nenhum problema. Mas se tem um tutor de um jovem atleta sub-15 que quer colocá-lo para jogar o Mineiro, esteja à vontade, mas terá que ser parceiro do projeto, se não viramos apenas barriga de aluguel e não temos retorno nenhum”, explica Matta, colocando em pauta, ainda, a possibilidade ainda de acordos entre clubes:
“Se indicamos um jogador ao Cruzeiro, lá você já vai ter um contrato de que 20% daquele valor, se o atleta um dia for vendido, vai ser seu por ter indicado. E isso vai diminuindo conforme a idade. Se eu mandar um menino sub-12, 20% vai ser do Uberabinha e 80% do Flamengo, que vai formar mais tempo o menino. Agora conforme vai invertendo, esse valor relativo também muda. Se eu indico um menino de 19 anos, passo a ter um percentual maior porque trabalhei com ele mais tempo. Essa lei mudou em abril do ano passado”.
Texto: Bruno Kaehler – Toque de Bola
Fotos: Toque de Bola
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