Bernardo Faria (Alliance) é o cara do jiu-jítsu! O lutador juizforano não gosta de ser tratado como tal, mas os números comprovam. Aos 28 anos, o atleta acaba de voltar ao topo do Ranking da Federação Internacional de Jiu-Jítsu Brasileiro (IBJJF) com os títulos de campeão mundial absoluto e o tetra nos pesos superpesados (até 100,5 kg) na competição em Califórnia, nos Estados Unidos. Bernardo concedeu entrevista ao Toque de Bola comemorando o momento, relembrando sua carreira com primeiras finalizações na Manchester Mineira e projetando as metas seguintes, evidenciando ser o melhor momento de sua vida.
Confira abaixo a entrevista do lutador Bernardo Faria ao Toque de Bola:
Toque de Bola: Você foi novamente campeão mundial por categoria e ainda no absoluto. Houve alguma luta ou fato que tenha te dificultado mais que o normal nestas conquistas? Como tem sido a repercussão para você?
Bernardo: “Um fato que tenha dificultado um pouco foi eu saber que podia ganhar o absoluto, mas nunca tinha vencido. Já fui segundo em 2011, terceiro em 2012, 2013 e 2014 e já havia conquistado o absoluto de todos os outros campeonatos: Pan-americano, Europeu, Brasileiro e Sul-americano. Também já tinha vencido o Mundial na minha categoria três vezes, então o único título que faltava na minha carreira era do absoluto. Essa expectativa de chegar e vencer cria uma pressão, um nervosismo, e você precisa lidar com isso tudo e ter a frieza de chegar na hora e vencer. Estava completamente preparado para esse processo todo e na final do absoluto meu oponente se machucou uma luta antes e não conseguiu fazer a decisão. Foi uma sensação diferente, mas estou feliz do mesmo jeito, porque esse foi o melhor ano da minha carreira. Lutei o Pan-americano e ganhei na categoria e no absoluto, vencendo o adversário que iria lutar na final do Mundial, o Alexander Trans, um dinamarquês, por 2 a 0. Foi sem dúvida o melhor ano da minha carreira. Não terminou, mas por esses resultados do Pan-americano e do Mundial, em que venci categoria e absoluto nos dois e no Mundial finalizei cinco lutas de seis, sem dúvida é o ano mais feliz da minha vida. Tudo vem dando certo e foram 15 anos de treino, dedicação, vontade e abdicação para chegar nesse final de semana, mas valeu a pena. E a ficha está caindo agora, é difícil de acreditar. E para completar, recebi a notícia que voltei para o primeiro lugar no Ranking mundial. Tinha ficado em 2013 e agora com esse resultado no Mundial, estou de novo. Só venho recebendo notícias boas”.
Toque de Bola: Quais seus próximos objetivos após estes resultados de tanta expressão?
Bernardo: “Enquanto eu tiver saúde e motivação é continuar fazendo o que tenho feito, respeitando meu corpo, porque você vai ficando mais velho e vai se machucando cada vez mais. É treinar cada vez mais inteligente e continuar competindo o que for interessante para mim. No final de agosto vai ter o ADCC, que é organizado pelos sheiks dos Emirados Árabes. É sem quimono e só para convidados, então se for chamado, vou disputar. Gosto mais de quimono, mas treino sem também. Venho bastante animado, tenho feito vários projetos fora do tatame, estou com uma empresa online e motivado com minha vida. O mais interessante é isso, ter vontade de vencer não apenas no tatame, mas na vida, e quando você tem isso, que a gente fala no inglês ‘as bad as you want breathe’, quando sua vontade é do mesmo jeito que você quer respirar, então você deve ter esse objetivo da mesma forma que quer respirar. Sou cheio de objetivos na minha vida e tenho que realizar todos, minha cabeça não aceita não fazer. Tudo que planejei lá atrás, quando tinha 14, 15 anos, está acontecendo agora”.
Toque de Bola: Você começou em Juiz de Fora? Quem te apresentou ao jiu-jítsu? Há outros nomes que você destaca na cidade?
Bernardo: “Quem me apresentou ao jiu-jítsu foi um dos meus melhores amigos, que é muito amigo do meu irmão também. O nome dele é Pedro Sid, o Pedrinho. Ele é inclusive meu padrinho de crisma e sempre me apoiou muito. Sempre que ia lutar no Rio, ficava na casa dele. A história é muito legal. Graças a Deus comecei treinando com o Ricardo Marques, que é quase um pai para mim, uma das pessoas que mais admiro e respeito na vida, porque é um dos seres humanos mais bacanas que já conheci. Ele dá aula em Juiz de Fora, na Rua Olegário Maciel, na academia Brazilian Top Team (BTT), e inclusive quero indicar para quem pensa em praticar um esporte, o jiu-jítsu é maravilhoso e se você tiver a sorte de ter um professor como o Ricardo, estará muito bem assessorado”.
O Toque de Bola entrou em contato com o primeiro professor de Bernardo, Ricardo Marques, que também teceu elogios ao campeão mundial: “O que mais me chamava a atenção no Bernardo era a disciplina dele. Desde novo era um atleta super dedicado, não faltava aos treinos e sempre foi determinado, buscava o que queria. Fico muito feliz com esse resultado dele e independente de ter mudado de academia, sempre vou continuar torcendo por ele”.
Toque de Bola: Há outros nomes da cidade que você destaca?
Bernardo: “Tem um garoto que mora em Juiz de Fora, o Leonardo Saggioro, o Cascão. Foi uma das pessoas com quem eu mais treinei na vida inteira. Ele é bem mais leve que eu, mas tem a mesma vontade. Vejo nos olhos e no treino dele o tanto de vontade que tem. Já foi campeão brasileiro duas vezes e é um grande amigo meu também. Ele é o nome de Juiz de Fora que eu destacaria junto do professor Ricardo”.
Toque de Bola: Você encarou brasileiros nas etapas finais nos dois torneios. Como vê a representação do país no jiu-jítsu em âmbito mundial?
Bernardo: “O Brasil ainda é o país que tem os melhores lutadores, mas pouco a pouco isto está mudando. Na final do absoluto, por exemplo, eu ia lutar com o Alexander Trans, que é da Dinamarca. Já têm vários americanos que estão brilhando, só que ainda dominamos o esporte, tanto que das dez finais acho que todos os campeões foram brasileiros. Mas isso está mudando. Como em todos os esportes, a gente vai acabar perdendo, porque o Brasil realmente não incentiva o esporte. Costumo dizer que no Brasil tem o futebol e o resto, não há um segundo esporte. Pode ver que 95% dos melhores lutadores de jiu-jítsu já estão morando fora, porque realmente não há o incentivo no Brasil. Tem começado a mudar um pouco pelo MMA, mas lembro que quando estava no colégio, falava que viveria do jiu-jítsu e achavam que estava brincando. A própria cultura do brasileiro não enxerga o esporte como profissão, apenas como hobbie, mas é um excelente caminho até para a educação das pessoas. No jiu-jitsu você aprende a respeitar seus parceiros de treino, ser humilde, porque você vai ganhar e perder, então o esporte devia ser muito mais valorizado do que é”.
Toque de Bola: Aos jovens juizforanos que leem esta matéria, o que é importante especificamente no jiu-jítsu?
Bernardo: “Acho que o mais legal do jiu-jítsu é uma filosofia que a própria luta passa. O jiu-jítsu é conhecido como o xadrez humano. Você tem várias posições e o cheque-mate que é a finalização, então o jiu-jítsu te ensina, por exemplo, se você estiver em uma situação ruim, a trocar de situação, e acho que a vida é isso. Às vezes você está em uma situação boa ou ruim e tem que saber se comportar em todos os momentos. Fora isso, ainda tem todo o respeito das artes marciais. É um contato muito próximo no esporte e se você não tiver o mínimo de respeito, não tem condições de lutar. Mas o mais importante é ter um professor que saiba passar isso, assim como o Ricardo me ensinou tudo isso. Depois disso tive a sorte de ter mais dois professores que são os melhores do mundo: o Fábio Gurgel e o Marcelo Garcia, que é provavelmente a maior lenda do jiu-jítsu e onde estou agora, em Nova York. E o Fábio é considerado o melhor professor de jiu-jítsu do mundo, então tive muita sorte”.
Toque de Bola: Para finalizar, seu currículo é extenso. Pode ser considerado “o cara a ser batido” em sua categoria no esporte?! Há quanto tempo luta?
Bernardo: “É difícil falar, não gosto de pensar dessa maneira. Prefiro dizer que esse foi meu final de semana, fui lá e fiz o que devia, não gosto de colocar essa pressão. Estou com 28 anos, entrei no jiu-jítsu quando tinha 14, em 2001, então faz 15 anos que treino e costumo dizer que para ser campeão absoluto não treinei três meses, mas 15 anos. Desde quando entrei tinha o sonho de ser campeão absoluto”.
Texto: Bruno Kaehler
Fotos: Divulgação
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