Barcelona? Uberabinha/UFJF busca padronização da base em “modelo de jogo holandês”

A ida do técnico Muricy Ramalho à Espanha para conhecer o trabalho desenvolvido nas categorias de base do Barcelona foi intensamente divulgada. Rádios, jornais, programas de TV e sites analisavam a intenção do agora técnico do Flamengo de padronizar o modelo de jogo de todas as categorias de um clube, assim como é feito na instituição catalã. O Toque de Bola aproveitou a parceria oficializada com o Uberabinha e foi entender um pouco mais sobre os ideais de trabalho do coordenador do Cefor-UFJF e professor de futebol, Marcelo Matta, e do treinador da equipe sub-17 do Uberabinha/UFJF, Alex Nascif.

O embasado círculo de estudos da Federal vê a padronização tática como parte do sucesso. Se engana, no entanto, que o modelo vem do time de Lionel Messi. As análises aprofundadas, inclusive, podem gerar um livro em breve:

“É o caminho, mas não no modelo do Barcelona. Desenvolvemos um grupo de pesquisa de futebol na UFJF e estamos envolvidos desde 2011, tendo hoje um currículo de formação do jovem futebolista ao longo do tempo. Possuímos nossa concepção de jogo e, para atendê-la, é necessário que o jogador tenha conceitos e comportamentos padronizados que colocamos como princípios. E são muitos, além da formação técnica, física, psicológica e social. Temos um processo de formação esportiva que se dá ao longo do tempo, tal como tem a matemática, o português, a geografia. A UFJF tem um currículo de formação já sistematizado e arquivado, divulgado inclusive na Universidade do Futebol. O próximo passo é fazer um livro sobre isso”, revelou Matta.

Treinamento da equipe sub-17 do Uberabinha/UFJF em campo reduzido na Faefid
Treinamento da equipe sub-17 do Uberabinha/UFJF em campo reduzido na Faefid

Por que não o Barcelona?

“Esses conceitos e princípios vão atender a um modelo de como o treinador quer que sua equipe jogue, e existem vários métodos de jogo. Agora, se eu atender a um modelo de jogo da equipe profissional, esse meu jogador sub-13, sub-14, sub-15, vai ser formado só para atender aquela maneira de jogar, o jeito Barcelona, vamos colocar assim. E se esse menino sai? Porque com certeza 98% da escola do Barcelona vai embora, não são utilizados na equipe principal. Eles tiveram um tipo de formação. Já a escola holandesa, que é a que a gente defende, é a formação de um jogador universal, que vai atender a diferentes modelos de jogo, possibilitando que ele atue em vários modelos caso saia de uma equipe. Se você vir um jogo de camisas trocadas de Barcelona e Real Madrid, sabe detectar quem é quem pela maneira de jogar. Isso é o modelo de jogo. O Muricy quer que seja o modelo dele. Mas e se daqui a três anos ele cai? Depois chega um treinador com um modelo totalmente diferente. E o que passou, morre? Perde-se três anos. Então acima do presidente do Barcelona, tem um projeto. Todos vão trabalhar para atender o projeto. O Eto’o foi mandado embora porque não atendeu ao projeto, não aprendeu a falar catalão, e fazia gols”, explicou o coordenador do projeto de extensão da UFJF.

O modelo holandês citado foi explicado por Nascif: “Na Holanda existe uma diferença no modelo de jogo. São vários processos dessa estrutura organizacional que se diferenciam do Barcelona, que possui um modelo fixo, enquanto o holandês tem uma formação global, que busca ao atleta o futebol total, onde ele desempenhe todas as estruturas organizacionais e métodos de jogo ofensivos”.

Modelo de jogo: cinco momentos

Nascif reitera, ainda, que há uma troca de conceitos em grande parte das discussões no país:

“O futebol brasileiro ainda acha que o modelo de jogo é o que chamamos de organização estrutural, plataforma de jogo, que é 4-4-2, 4-2-3-1, 4-3-3. O que o Muricy quis dizer e o que os jornalistas falam é de jogar com essa mesma plataforma de jogo desde o sub-12 até o profissional. Eles acham que se o profissional joga no 4-2-3-1, toda a base também tem. Só que modelo de jogo não é isso. É a forma com que sua equipe se comporta nos cinco momentos da partida: quando você está com a bola, a organização ofensiva,  quando está sem ela, a organização defensiva, quando recupera a bola, a transição ofensiva, quando perde a bola, a transição defensiva, e o quinto momento, que é das bolas paradas. De acordo como você se comporta nesses momentos, se você circula a bola, se usa o campo em profundidade, em largura, se marca em linhas, em balanço, isso é o modelo de jogo, e não números”, avaliou o técnico sub-17 do Uberabinha/UFJF que acumula passagem, inclusive, pela comissão técnica do Tupi.

Da teoria à prática

Outro desafio de Nascif dentro desta proposta de jogo é a transferência da informação na prática aos jovens, em processo de amadurecimento. O comandante do sub-17 do Uberabinha/UFJF contou um pouco do trabalho realizado em busca da assimilação de seus jogadores:

“O mais difícil, por causa do ego e de outras dificuldades, é por eles não terem passado por um processo de treinamento técnico-tático. Então chegam em uma categoria sub-17 e têm muita deficiência nesses conceitos e princípios de jogo. Logo, o treinador tem que bater de frente, cobrar, então o desgaste é muito maior. Acredito que daqui a alguns anos os jogadores formados na UFJF não vão apresentar esse tipo de problema por já terem passado por esse processo de formação. Vamos vendendo essa ideia para eles aos poucos e vão se adaptando”.

 

Texto: Bruno Kaehler – Toque de Bola

Fotos: Toque de Bola

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Este post tem um comentário

  1. Eu sou o primeiro

    Muito bom o trabalho do Nascif. Parabéns. Abs.Albano Pedrosa.

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