Ciclismo: há urgência de saber mais sobre quem usa bicicleta em JF

A base de todas as discussões em andamento que o Toque de Bola acompanha a partir do Fórum Pedala JF, é saber, com dados: quantas pessoas usam bicicleta em Juiz de Fora? São estes questionamentos que norteiam os próximos passos.

Para se chegar a estas respostas será necessária uma pesquisa. A expectativa da Secretaria de Esportes e Lazer, dita em entrevista ao nosso portal, é de realizar este levantamento ainda no primeiro semestre de 2022.

Para saber mais detalhes sobre as possibilidades de execução desta etapa, conversamos com o responsável pelo setor de Mobilidade Ativa da Associação Juizforana de Ciclismo (AJFC), Diogo Borges de Mattos Carneiro.

Falta de dados atrapalha 

Diogo Carneiro, da Associação Juiz-forana de Ciclismo

Publicitário e Bacharel em Direito de 46 anos, Diogo Borges de Mattos Carneiro, pedala desde a infância, usa a bicicleta como meio de transporte e trabalha com cicloativismo ativamente desde 1999. E sempre esbarrou em uma situação onde Juiz de Fora faz parte de um contexto nacional: a falta de dados.

“Apesar do reconhecido avanço na produção de estatísticas públicas no Brasil, com pesquisas cada vez mais periódicas e abrangentes, tanto do ponto de vista temático quanto territorial, ainda é escassa a produção de informação e conhecimento sobre mobilidade urbana, em especial sobre a bicicleta e demais meios ativos”, explica Carneiro ao Toque de Bola.

Havia uma expectativa de mudança de situação a partir do Censo 2020. No entanto, primeiro o processo foi adiado para 2021. Depois, por falta de recursos, foi transferido para o segundo semestre de 2022. “A ausência de dados se torna ainda mais preocupante em razão do adiamento do Censo Demográfico, que deveria ter sido realizado em 2020 e que, pela primeira vez, traria quesitos importantes sobre a mobilidade por bicicleta no Brasil”, comenta Diogo.

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Pesquisa Perfil do Ciclista

A exceção no cenário foi a realização de três Pesquisas Perfil do Ciclista (PPC), numa parceria da Associação Transporte Ativo, do Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Observatório das Metrópoles do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia. Os levantamentos já concluídos foram feitos em 2015 e em 2018, edição que incluiu cidades do Brasil, da Argentina e da Colômbia. Está em reta final do trabalho feito em 2021, em 16 cidades de todas as regiões do país – sendo 9 capitais e que incluem também quatro prefeituras.

Diogo Carneiro avalia como as estatísticas insuficientes comprometem outras discussões. “Assim, apesar dos esforços de muitas organizações da sociedade civil e da realização de duas Pesquisas Perfil do Ciclista (PPC), ainda é tímida a produção de informação sobre o uso da bicicleta como transporte urbano. Há pouca informação coletada e publicada de forma periódica. Este cenário traz um grande desafio para os atores interessados nas análises do uso da bicicleta, bem como para aqueles envolvidos no processo de elaboração e implementação de políticas públicas voltadas ao transporte cicloviário.”

Banner Pesquisa Perfil Ciclista 2021

Metodologia une local e nacional

Ciclistas na Avenida Rio Branco em Juiz de Fora
Foto: Toque de Bola

A expectativa do Pedala JF é de que Juiz de Fora se organize e participe nas próximas Pesquisas Perfil do Ciclista, como pondera o responsável pelo setor de Mobilidade Ativa da AJFC. “Tudo indica que a metodologia adotada em Juiz de Fora será aquela desenvolvida e aplicada na já recorrente Pesquisa Perfil do Ciclista, através da Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicletas. Esta já é uma iniciativa integralizadora de nível nacional, que disponibiliza o método e orientações sobre a execução da pesquisa.”

De acordo com Diogo Carneiro, ao participar da Pesquisa Perfil do Ciclista, além do apoio dos organizadores do levantamento, os dados serão incluídos em universos além de Juiz de Fora. “Eles também se encarregam de, ao final, receber os números, cruzá-los e integrá-los a um banco de dados nacional, que é atualizado constantemente e por sua vez integrado a um banco de dados mundial. Tudo isso disponível ao público interessado e de inestimável valor para apontar as direções das políticas públicas que devem ser adotadas pelos nossos governantes em todos os setores da sociedade”, considera.

Dados confiáveis

Ao seguir uma metodologia que já permitiu duas pesquisas e está com a terceira em fase de finalização, a tendência é de obter dados confiáveis. Estes são necessários para o município e as organizações envolvidas com o tema.

“O processo se completa quando os dados coletados podem ser armazenados, cruzados e comparados. Através destas boas práticas é possível que os dados coletados possam contribuir com pesquisas posteriores de forma sistemática. Quando as informações são coletadas de forma clara e objetiva e seu armazenamento e disponibilização possibilitam o reuso de forma contínua, o trabalho de pesquisa se desdobra no tempo, contribuindo para muito mais do que foi inicialmente idealizado”, destaca Diogo Carneiro.

Impacto a longo prazo

O cicloativista ressalta que as duas primeiras edições da pesquisa “Perfil do Ciclista Brasileiro”, em certa medida, preencheram lacunas e contribuíram para a clareza e qualificação do debate acerca do uso da bicicleta como meio de transporte. “Em linhas gerais, novas edições da pesquisa se justificam por manter o levantamento contínuo de dados sobre o deslocamento por bicicleta em uma sociedade em constante transformação. As edições mais recentes pretendem manter o foco principal na produção de dados sobre o comportamento na locomoção e sobre a dinâmica do uso cotidiano.”

Ciclista no anel viário na UFJF

Para isso é importante que mais cidades participem da pesquisa. Isso ajudará a entender inclusive o impacto da pandemia da covid-19 neste aspecto da vida do brasileiro.

“O novo levantamento contempla uma ampliação, tanto do escopo (com a inclusão de novas perguntas) quanto da abrangência territorial, com a incorporação de outras cidades brasileiras. Por meio do levantamento de campo é possível identificar as motivações, hábitos e características sociodemográficas dos usuários de bicicletas no ambiente urbano. Além disso, busca identificar possíveis mudanças nos deslocamentos diários devido à Pandemia de Covid-19”, explica Carneiro.

A partir dos dados, o responsável pelo setor de Mobilidade Ativa da AJFC também considera o impacto nas decisões estratégicas voltadas para o dia a dia em Juiz de Fora. “Espera-se também que os resultados das Pesquisas Perfil do Ciclista ofereçam subsídios para o desenvolvimento de uma agenda de ações de promoção ao uso da bicicleta, em especial pelas organizações envolvidas no projeto ‘Parceria pela mobilidade por bicicleta no Brasil’. Tais ações se mostraram ainda mais urgentes em tempos de pandemia. O objetivo é principalmente apontar formas de se adequar o espaço urbano de forma a oferecer para o usuário da bicicleta seu pleno direito de ir e vir em segurança”, afirma.

Texto: Toque de Bola – Roberta Oliveira
Fotos: jcomp/freepik; UFJF/Divulgação; Transporte Ativo/reprodução; Diogo Borges/arquivo pessoal; Toque de Bola

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