Artigo revelador sobre o basquete brasileiro! Veja os resultados

Dilson Borges
Dilson Borges Ribeiro Junior, Professor da Faculdade de Educação Física e Desporto da UFJF

    Sempre se diz que existe uma distância muito grande entre o mundo das Ciências do Esporte e o Esporte em si (o chão da quadra, a beira do campo, a borda da piscina…), que na prática a teoria é outra. Todavia, temos visto que no mundo do futebol isso tem mudado bastante, mas será que tem sido mesmo assim?

  Um grupo de cientistas do esporte da Faefid (Faculdade de Educação Física)/UFJF, UFOP e Universidade da Extremadura na Espanha acaba de publicar um artigo em Revista internacional na área do esporte, em que defendem que na prática a teoria não é outra!

    Os pesquisadores se debruçaram em estudar o basquetebol brasileiro, sim o basquetebol brasileiro, detentor de inúmeros títulos internacionais e em grande crescimento no cenário nacional e mundial.

  Há 12 anos o basquetebol brasileiro tem revelado atletas para o mundo da modalidade a partir de sua Liga Nacional – o NBB (Novo Basquete Brasil). Atualmente na NBA, Raulzinho (Washington Wizards), Cristiano Felício (Chicago Bulls) e Didi (New Orleans Pelicans) foram direto do NBB para o maior basquete do mundo (NBA) e irão figurar junto a outros talentos em breve da vaga olímpica pela nossa seleção nacional.

Evento de basquete UFJF
Evento de basquete UFJF (arquivo Toque de Bola)

   Com isso, o artigo buscou observar a carreira de 4652 atletas de elite que figuraram em  competições nacionais do basquetebol brasileiro (sub15, sub17 e sub22) entre os anos de 2004 a 2018, inclusive com alguns atletas de Juiz de Fora e região.

    O objetivo dos autores foi observar a partir de um olhar multifatorial quais os principais aspectos relacionais ao individuo (crescimento e maturação), ambiente (estado de origem e mês da nascimento), tarefa (posição de jogo, número de competições jogadas) e resultado esportivo (subiu ou não ao pódio) eram determinantes para que um atleta de categoria de base pudesse alcançar o NBB, ou seja, se tornar um profissional.

   Os resultados indicaram: 1) atletas de maturação precoce apresentaram maiores chances de chegar ao NBB; 2) Os atletas que nasceram nos primeiros meses do ano são os mais selecionados na categoria de base, porém não são os que chegam ao NBB; 3) Ser selecionado na categoria sub15 não é garantia de se tornar profissional; 4) Quando se é mais alto nas categorias menores aumenta sua chance de ser selecionado; 5) Aqueles atletas que jogaram o sub22 possuem até 4 vezes mais chances de se tornar profissional que os que não jogam o sub22; 6) Os atletas que migraram para a região sudeste aumentaram suas chances de se tornar profissional em até 8 vezes; e 7) Aqueles que conseguiram fazer todo o processo da base, desde o sub15 até o sub22, tiveram maiores chances de alcançar o NBB.

Garotada do basquete em ação - Arquivo Toque de Bola
Garotada do basquete em ação – Arquivo Toque de Bola

   Enfim, treinadores, gestores, clubes, federações e empresários ligados ao basquetebol brasileiro possuem agora uma evidência científica que contrasta e constata a realidade do basquetebol brasileiro, em que nem sempre os melhores em idades menores serão os craques do futuro, que é preciso ter uma categoria de acesso ao profissional, que as oportunidades neste esporte são centralizadas no sudeste do país e que investir no desenvolvimento dos atletas ao longo do tempo é certeza de grandes talentos desfilando pelas nossas quadras e pelo mundo afora!

  As informações foram compartilhadas com a Confederação Brasileira de Basquetebol e com a Liga Nacional.

(Assinam a publicação do artigo internacional: Dilson B. Ribeiro Junior, Francisco Z. Werneck, Hélder Z. Oliveira, Patrícia S. Panza, Sergio J. Ibáñez, Jeferson M. Vianna)

CLIQUE AQUI E CONHEÇA O ARTIGO! 2021_FromTalent_to_Novo Basquete Brasil

Texto: Dilson Borges Ribeiro Junior, Professor da Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Federal de Juiz de Fora

Texto exclusivo para a seção de crônicas dos convidados do Toque de Bola

Edição: Ivan Elias – Toque de Bola

 

Este post tem 3 comentários

  1. Alisson Grotz

    Meus parabéns pela bela análise técnica, que acredito irá ajudar muito não só os atletas que querem se proficionalizar como também os clubes q passaram a investir mais em categoria de base, que nos muito bem sabemos q faz muita falta no nosso esporte no país. Parabéns Dilsão

  2. Dilson Borges

    Prezado Frank, obrigado pelo comentário! Realmente ainda há muito poucas evidências científicas que apresente o real cenário da prática desse maravilhoso esporte em nosso cenário nacional. O poder de envolvimento com o basquetebol pelo brasileiro transcende momentos de NBA ou de resultados internacionais, além disso, muito potencial para esse esporte anda desfilando pelo nosso país. A descentralização e elitização do basquetebol ainda não é concreta, mais já apresenta sinais de bons ventos futuros. Em relação à elevada estatura, vc tem razão, entretanto, este cenário também é um falso revés, porque na prática das idades menores os mais altos são selecionados mais não são destaques, não tem minutos em quadra, e nem sempre são estimulados ao desenvolvimento multilateral (jogando em várias posições)….
    Enfim,……debate longo… mais vamos em busca de entender melhor este fenômeno e quando tivermos a oportunidade de intervir, tentarmos auxiliar neste processo!!

  3. Frank

    Gostaria de cumprimentar ao Prof. Dilson e demais autores pelo excelente artigo! Na verdade, sempre faltou ao basquete brasileiro essa análise científica e que permitisse identificar as desigualdades e problemas que há anos temos nas categorias de base. Pelo texto é possível observar claramente o problema da desigualdade regional e da quase impossibilidade de acesso às categorias profissionais quando o atleta não é da região sudeste do país. Outra questão relevante é o corte da estatura e da maturação dos fundamentos do esporte. É realmente uma lástima que a vantagem da estatura continue a ser ponto decisivo na escolha de atletas e no acesso às categorias superiores e no nível profissional. Dizem que o fundador do esporte, o americano Prof. Naismith, chegou a afirmar que o basquete era sobre habilidade, velocidade e fundamentos e nunca sobre estatura, embora a mesma seja de fato uma vantagem ao praticante. Particularmente, acredito que enquanto o esporte continuar a procurar entre as novas gerações quem serão os próximos Shaquille O’Neal ou Antetokoumpo ao invés de garimparem para descobrir os próximos Steve Nash, Isiah Thomas ou John Stockton, continuaremos a ter essa realidade de preterimemto de acesso de atletas de menor estatura, mesmo que talentosos, nos níveis mais avançados do basquete. Como exemplo do que é possível melhorar nesse aspecto, o Houston Rockets dos últimos anos e o Golden State Warriors da era pré Kevin Durant, são excelentes exemplos do basquete de altíssimo nível “small ball” em que ninguém dos titulares tinha mais de 2.00m/6’7 pés de altura. Por fim, cumprimento novamente pelo excelente artigo que traz luz para essas questões importantíssimas do belíssimo esporte que é nosso basquete!

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