Ah, os estaduais…
Talvez seja difícil explicar aos mais novos o motivo de ainda assistir (ou seria insistir?) aos campeonatos estaduais.
Mas na nossa cabeça a regra é clara: quem vivenciou momentos de estaduais de outras décadas tem, por mais saudosista ou absurdo que pareça, esperança de recobrar estas sensações.
Vamos a um exemplo?
Tupi vence o Atlético Mineiro por 2 a 1. Ano: 1984. Este amigo de vocês estava lá, na arquibancada do velho alçapão de Santa Terezinha.
Nequinha faz dois gols e “conquista” o Brasil. É o gol mais bonito da rodada no Fantástico.
Isto numa época em que não havia TV por assinatura e aguardávamos ansiosamente para ver os gols do ludopédio nacional (“do Oiapoque ao Chuí”) reunidos em horário nobre.
Não tinha segunda chance de (re)ver os lances no Troca de Passes, Sportscenter ou na Bandnews. Globoplay? Instagram? Em 1984?
Que orgulho do clube da nossa cidade! Foi o assunto da segunda-feira e de boa parte da semana.
Viu o Tupi no Fantástico? Que golaço, hein? Como o campo estava cheio!
E, digitando essas mal traçadas, lembramos que no nosso Portal Toque de Bola fizemos uma série de reportagens, em 2016, sobre a “escrita” Tupi x Atlético.
De 1984 a 1990, nos encontros em Juiz de Fora, o autêntico Carijó não perdeu para o alvinegro da capital.
Clique aqui para rever esta reportagem com Nequinha
Peraí, deixe eu ver, pelas escalações daquela partida, se esta crônica é um devaneio ou se, de fato, o jogo citado reunia talentos em campo para respaldar esta saudade.
22/07/1984 – Tupi 2 x 1 Atlético – Gols de Nequinha (2) e Roberto Biônico. Estádio Salles de Oliveira – Público: 8.473 pagantes – Renda: Cr$ 24.355,050,00.
Tupi: Gilberto; Evaldo, Ricardo Estrade, Júlio Maravilha, Simão; Isidoro, Manoel e Paulinho, Paulo Lino (Nequinha), Félix, Ronaldo (Paulo Sérgio). Técnico: Augusto Clemente.
Atlético: João Leite; Nelinho, Marinho, Luisinho, Miranda; Vitor, Heleno, Reinaldo (Everton), Catatau (Elzo), Roberto Biônico e Éder Aleixo. Técnico: Procópio.
Pegando esta ficha técnica como exemplo, a relação de bons valores em campo é bem grande. E nos dois times. Que bom! Não é só um delírio de quase 40 anos. Tinha futebol.
Vamos voltar – tem outro jeito? – para 2023.
Defendemos a manutenção dos estaduais – ou de regionais, até. Em campo, porém, o que observamos em alguns jogos deste janeiro é falta de tudo. De profissionalismo, de seriedade, de compromisso, de interesse… De inteligência mesmo.
Numa boa: do jeito que boa parte dos clubes e federações tratam os estaduais, não era para cobrarem ingresso. É – com raras exceções – como se o torcedor pagasse para ver um show e entrasse no palco um cover, fuleiro, espantalho, desafinado.
Claro, é início de temporada, falta melhor condicionamento físico, sabemos disso.
Mas se os próprios clubes não levam os jogos a sério, aí vira ensaio. E ensaio ou é fechado ao público ou não se cobra ingresso.
Posso voltar para 1984?
Texto: Ivan Elias
Foto: Arquivo Pessoal Nequinha – Toque de Bola
Faltou no comentário anterior: levam nossos meninos pobres para virarem estes monstrengos tipo Daniel Alves e Neymar.
Estaduais sim, e como disse o grande Ivan Elias, com portões abertos. Se esquecem os que chamam de “saudosistas” os que defendem o verdadeiro futebol, que as famosas e bilionárias “ligas” europeias são na verdade “estaduais”, pelas dimensões de seus países. Esse lixo que nos vendem como “moderno” é alimentado pela nossa pobreza, pelos nossos meninos preparados em “escolinhas de base” para irem jogar na Europa. Somos pelos Estaduais e pelo velho futebol de rua, cantado pelo Tavinho Moura. Vai aí uma canja …
Espetacular lembrança!!! Estava nessa tarde ensolarada de domingo junto com meu pai. Vibramos juntos com essa virada histórica!!! Uma tarde memorável para o futebol de JF e para mim que pude acompanhar diversos jogos do nosso Tupi e com certeza este foi dos jogos mais marcantes da minha infância como torcedor.
Excelente crônica, que vai além do futebol… nos remete a lembranças pessoais daquele tempo maravilhoso que o Tupi batia de frente com Atlético-MG. Time base da seleção do Brasil( Luizinho, Eder, Reinaldo….etc).
Parabéns Ivan!!!
Sou a favor dos estaduais, mas acho que eles deveriam ser mais curtos. Ou colocar os clubes grandes direto na fase final.
A gente tem que ter saudade, mas sem ser saudosista. Era ótimo, acompanhávamos no estádio o mineiro em JF, pela televisão (quando transmitia) ou rádio o carioca e às vezes até o paulista. A vibração por um título estadual era igual ou até maior (pela rivalidade local) do que por um nacional ou mesmo internacional. Só que os tempos mudam; para pior? para melhor? não sei… Hoje pela televisão assistimos quase todos os dias jogos do mais alto nível do mundo todo e é de lascar ver as peladas que são a quase totalidade dos jogos dos estaduais atualmente. Mas simplesmente extingui-los acho sacanagem. Que se mude então o formato e o jeito dos mesmos. A gente vê em vários países mais de uma copa sendo disputada simultaneamente aos nacionais. Por que não fazer dos estaduais um tipo de copa a ser disputada ao longo do ano, paralelamente à copa do Brasil e a um brasileirão que dure todo ano?
Na semana passada fui visitar um amigo no interior de SP. Sua filha do primeiro casamento, que vive em Conceição do Araguaia, sul do Pará também o visitava. Ela tem 13 anos, e é atacante do time feminino de sua cidade. Fui puxar assunto, – “você torce para quem?”, perguntei com a ingenuidade dos mais vividos. A contra- resposta foi fulminante: – “No Brasil ou no mundo?” “Sou Real Madri, no Brasil … (o time mais baixo e mais rejeitado)”. As considerações estão de acordo, mas acabar com os estaduais seria uma rendição a este sistema centralizador. Talvez a resposta da jovem seria apenas “Real Madri”.
Bons tempos esses que coincide que minha juventude. Era um barato acompanhar os jogos no Tupi e no Sport. No Baeta assisti um Tu xTu amistoso preparatório para o estadual. O Galo para a primeira e o Tupinambás para a segunda. Os estaduais hoje em dia estão superados, já era. Sou mais a favor das divisões nacionais, tantas quantas forem necessárias e regionalizadas, chegando até (como exemplo), a uma divisão nacional na zona da mata.