Caros e caras, primeiro, um 2022 com saúde pata todas e todos! Ia desejar um ano “feliz”, mas já nesses primeiros dias essa possibilidade escorregou do nossos dedos, né? Mas, seguimos!
Logo no início de 2022, acompanhamos a saída turbulenta do goleiro Fábio do Cruzeiro. Ídolo da torcida, prestes a completar 1000 jogos com a camisa celeste, o arqueiro de 41 anos não fazia parte do planejamento da nova gestão, de Ronaldo Fenômeno (dono) e Paulo André (gerente). Após uma frustrada tentativa de renovação até o meio do ano, para o Mineiro somente, com significativa redução salarial, vinda de um clube que deve ao atleta alguns milhões, o jogador recusou a proposta.
Sem entrar nos pormenores de zero pra cá, zero pra lá, em contrato antigo ou o que foi proposto, queria dedicar essas mal-traçadas tratar deste embate dos afetos dos torcedores versus a gestão dita moderna do futebol. Prevejo que em quase toda Sociedade Anônima do Futebol (SAF) que for criada em equipes de tradição no Brasil, como foi no Cruzeiro, isto é inevitável. Há ídolos em campo, embora estejam cada vez mais raros por essas bandas, que devem sofrer como esse novo jeito gerir as equipes.
Turnê de despedida
O caso de Fábio é emblemático para mim pois, mesmo aos 41 anos, o desempenho esportivo dele ainda não estava em declínio físico ou técnico. Pode começar a qualquer momento? Pode. Mas nada indica que vai. O que a gestão Ronaldo perdeu, a meu ver, foi uma bela oportunidade de marketing afetivo e de colocar o torcedor a seu lado. Pelo contrário, com a atitude que tomou, chama para si o papel de salvadores da pátria incontestáveis. Se funcionar, se dão muito bem. Se não, vão ser os únicos culpados pelos fracassos. É uma posição perigosa, ainda mais se tratando de futebol. As variáveis são muitas!
Olhando de fora, no caso Fábio, Ronaldo poderia ter inspirado sua atuação na gestão de algumas das mais valiosas franquias do esporte mundial: os times da NBA. A maioria das equipes da grande liga americana de basquete trata seus ídolos prestes a aposentar como trunfo de marketing afetivo para cativar o torcedor – seu e do adversário -, e espreme o restinho de jogo que eles ainda têm. Não são poucos os exemplos da famosa turnê de despedida de craques como Michael Jordan, Magic Johnson, Kobe Bryant, etc. E tome de ginásios lotados e camisas comemorativas vendidas. Isso sem contar com copos, cachecóis, bonés, chaveiros e todo tipo de bugiganga que se possa imprimir frases “adeus, Fulano” ou “turnê de despedida de Ciclano, eu fui”!
Oportunidade perdida
O que vou falar pode ferir alguns orgulhos, mas a verdade é: o Cruzeiro não vai a lugar nenhum nesta temporada. No máximo, volta para a Série A do Campeonato Brasileiro. Então, é um retorno, não um passo adiante. Por isso, acredito que Fábio merecia se despedir em campo, jogando, nem precisava ser todos os jogos. Mas imaginem um Mineirão lotado para comemorar a milésima vez que o goleiro vestiria a camisa celeste. Quanto poderia ser aferido entre vendas de camisas, bilheteria, badulaques promocionais, etc durante o ano e neste evento único? Bem, não saberemos nunca. A gestão Ronaldo não quis se planejar para isso.
Reparem que citei bastante a questão financeira para me ater ao tema central da recuperação cruzeirense com os novos gestores. Justamente para mostrar que seria, inclusive financeiramente, viável manter um ídolo no elenco azul. Mas, sei bem que futebol não é – e não pode ser – só isso. Se os gestores das SAF ficarem preocupados somente com números em uma planilha para administrar clubes tradicionais, estão fadados ao fracasso. Olhar colaboradores e afins somente com o visor frio das finanças não funciona nem mais no chamado mundo empresarial. É bom que ainda exista o torcedor apaixonado para deixar esperta a gestão que pisar na bola com seus preferidos.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: divulgação/Cruzeiro; e Rodrigo Sanches/Cruzeiro