Como carijó de coração, o ex-camisa 10 do Tupi, Adil Pimenta atendeu ao chamado do clube.
Convidado para reassumir a direção de futebol, o ex-jogador das décadas de 1980 e 1990, com passagens também por grandes clubes como Portuguesa, Cruzeiro e Corinthians, está de volta à Santa Terezinha. Nesta entrevista exclusiva ao Toque, o dirigente, que vai comandar o futebol carijó pela terceira vez em 2022, conta como foi sua saída em 2020 e porque não voltou em 2021.
Revela também informações sobre o atual estágio das providências para a tentativa do Carijó de disputar o Módulo 2 do Campeonato Mineiro. Além de falar sobre a situação extra-campo do Tupi, que levou à expulsão do ex-presidente José Luís Mauler Júnior, o Juninho, que havia o trazido de volta ao clube. Por fim, o ex-craque deixa uma mensagem para o torcedor alvinegro.
O que pesou para sua decisão de voltar à diretoria de futebol do Tupi? Como imagina que este ano pode ser diferente?
Primeiramente, me afastei por conta de muitas situações que estavam ocorrendo no clube. Lá em 2020, tinha a promessa do CT, dar uma nova cara para o clube. Nada foi cumprido. Voltei agora porque estou vendo a perspectiva de fazer algo que nunca foi feito. Tenho falado que nós vamos passar, e o clube fica. Tem que ser um Tupi formador, não só de atletas, mas dar oportunidades ao massagista, à nutricionista, etc. Este é plano, a meta mais à frente.
Em 2020, você esteve no clube e, ao final da participação no Módulo 2, deixou a diretoria de futebol. Em 2021, não aceitou o convite para o retorno. Como foi sua saída? Por que não aceitou o retorno no ano seguinte?
Meu telefone não tocou. Nem me agradeceram pela passagem de 2020, pela qual não recebi nada, ou sequer fui chamado a retornar em 2021. Talvez até por já saberem que, da forma que estava, eu não voltaria. No último ano foram amadores. O jeito que foi feito o futebol no último Módulo 2 da temporada passada nem de longe é algo que deveria acontecer no Tupi.
Falando em Módulo 2, acredita que o clube jogará? O que está sendo feito para viabilizar esta participação?
Estamos nos reunindo, conversando e buscando todos os meios de disputar o campeonato com dignidade. Colocando a casa em ordem para cumprir os compromissos. Melhorar a concentração, em Santa Terezinha, para dar melhores condições. Montamos um grupo de trabalho, cada um faz suas observações. Sem esse ou aquele no tomando decisões sozinho, sem vaidades. Agora é o Tupi, com todos que gostam do clube de verdade. A ferida é grande, vamos precisar de muito curativo, mas não é irremediável. Já temos nome para treinador. Aos poucos, estamos verificando as condições, o orçamento. Enquanto não definir a parte financeira, não podemos dar o próximo passo. Vamos com responsabilidade.
Acredita que é possível formar uma equipe que dispute o acesso? Ou apenas para manutenção no Módulo 2?
A primeira atitude que temos que tomar é melhorar a estrutura, dar o mínimo de dignidade. Para o jogador ter condições do atleta estar lá dentro sem preocupações. É uma primeira etapa para, dentro do que tiver de receita, montar um time. É muito relativo pensar em acesso, sem estrutura não dá. Quase 80% do Módulo 2 já tem, como o Nacional de Muriaé, Aymorés, etc. Isso pesa na hora de negociar com o atleta. Nossa escolha de grupo partirá de melhorar a nossa parte para, dentro das possibilidades financeiras do clube, buscar definir as contratações. A partir daí saberemos quais objetivos teremos condições de buscar na competição.
Como você viu o início do processo de retomada do futebol pela peneira do sub-20?
Se nós conseguirmos disputar o Módulo 2, temos que dar continuidade às categorias de base imediatamente. O objetivo é disputar o Módulo 2. Mas sem categorias de base, o clube é inviável. Esta volta com a seleção de novos atletas faz parte deste contexto.
Como foram os testes conduzidos nos últimos dias no Estádio Salles Oliveira?
Essa primeira peneira, foram mais jogadores com idade de juniores. Uma forma de colocarmos o departamento de futebol para funcionar novamente. Mostramos que o Tupi estará de portas abertas, dará oportunidade para quem deseja. Tivemos 300 inscrições em menos de cinco dias, mostrando que o nome do clube ainda é muito forte.
Recentemente, o clube passou por uma processo de expulsão do antigo presidente. Como você enxerga esta ruptura e os fatos que vieram à tona sobre a administração anterior? Em algum momento desconfiou ou foi chamado a participar das situações que viram denúncias contra ele tanto na esfera policial como no Conselho Deliberativo?
Não desconfie ou fui abordado em nenhum momento. Mas no fim de 2020, sai por conta deste contexto. Aliás, só fiquei até o fim do campeonato pelo meu compromisso com o treinador, o Roberval (Davino). Fui na delegacia depor, acompanhei de perto. Na medida que se ia conversando e investigando, foram aparecendo os fatos. O clube era gerido pessoalmente pelo presidente. Tomando decisões pessoalmente. O Conselho e a atual direção acabaram tomando a decisão correta. O Tupi tem que virar essa página. Não estou aqui para falar de direções anteriores. Mas as atitudes foram minando o patrimônio do clube, sem o levarem para a frente. Este processo era necessário. Agora, com todas as dificuldades, os salários estão em dia, cumprindo com as obrigações. É uma nova perspectiva.
Para finalizar, qual a mensagem você passaria aos torcedores do Tupi, castigados pelas frustrações dentro e fora de campo?
A situação está tão diferente atualmente que a participação do torcedor está em outro contexto. Recebemos alguns na semana passada, ouvimos sugestões, mostramos a realidade do clube. Sem o torcedor, o Tupi não é nada. Estamos abertos, escutando, unido forças para fazer uma corrente forte. Eles são fundamentais em um momento como esse, são peça-chave. Estamos sendo muito francos para entenderem que a realidade é dura, mas faremos de tudo para disputar o Módulo 2 com dignidade.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: Toque de Bola; e arquivo pessoal/Adil Pimenta
Uma difícil realidade. Vamos Galo Carijó!