O ex-jogador e técnico Luís Alberto Alves Severino, uma das referências da história centenária do futebol do Tupi em todos os tempos, faleceu aos 77 anos na manhã desta quinta, dia 21, no Rio de Janeiro.
Ele estava internado há cerca de um mês na capital fluminense, e a causa da morte não foi informada pela família. Deixa uma filha, Jacqueline.
Referência no Tupi
Como treinador, Luís Alberto fez história comandando o Tupi em 1984, 1985, 1987, 1988 e 2000. De acordo com levantamento realizado pelo historiador carijó Léo Lima, o ex-zagueiro dirigiu o clube em um total de 130 partidas, com 51 vitórias, 42 empates e 37 derrotas, sendo o terceiro que mais comandou o Alvinegro de Santa Terezinha, atrás apenas de Geraldo Magela Tavares (184 jogos) e Zú (179).
Bi do interior
Em uma época na qual o futebol dos times menores de Minas Gerais era muito mais bem estruturado do que atualmente, Luís Alberto levou o Carijó a conquistar dois campeonatos mineiros do interior, em 1985 e 1987.
Antes de se tornar treinador, foi zagueiro do Bangu entre 1963 e 1970, fazendo parte do histórico time campeão carioca de 1966. Este foi o último título não conquistado pelo quarteto Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense do Estadual.
Jogou também, por empréstimo, no Houston Stars, no Flamengo, no América-MG e no Americano até retornar a Moça Bonita em 1975 para encerrar a carreira.
Já como técnico, comandou o Bangu em 1977 e 1978, voltando àquela que era considerada sua casa em 1997. Durante 20 anos de idas e vindas, nas quais as passagens pelo Tupi estão incluídas, desenvolveu trabalhos também no futebol do Oriente Médio e da Ásia.
Manuel: “Admiração, time marcante”
Emocionado, o ex-meia do Tupi Manuel, que fez parte do time campeão mineiro do interior de 1987, se lembrou com carinho do ex-comandante. “Tenho uma admiração muito grande pelo Luís Alberto. Joguei com ele em 1984 no Americano de Campos (dos Goytacazes, interior do estado do Rio) e até aquele time marcante de 87 do Tupi. Uma pessoa maravilhosa, muito inteligente, que vai fazer muita falta no futebol. Aprendi muito com ele. Vou levá-lo comigo para sempre no meu coração.”
Maranhas: “um grande treinador”
Médico alvinegro, José Roberto Maranhas já foi vice-presidente do clube e era ao responsável pelo atendimento dos atletas quando Luís Alberto comandava o Carijó. A convivência rendeu histórias marcantes.
“A gente lamenta muito. Tivemos uma amizade muito boa. Sempre o considerei um dos grandes treinadores que já passaram pelo Tupi. Temos histórias publicáveis e outras não. Em uma das que lembro e posso contar, estávamos subindo para o campo do Sport e ouvimos gritos: ‘fora, Maranhas!’ Ele me olhou es pantado e disse: ‘doutor, já ouvi pedirem para tirar o técnico, o presidente, o jogador… mas o médico é a primeira vez!’ Exliquei para ele que eram meus amigos e ele me disse que, com tipos assim, eu não precisava de inimigos”, recorda-se.
Deixa saudade
O presidente do Carijó lamentou a morte do bicampeão do interior com o clube, lembrando que era um técnico de vanguarda. “O Tupi fica de luto com a notícia. Luís Alberto era uma pessoa muito querida, um treinador muito comunicativo, aberto a novas ideias e, para sua época, um treinador revolucionário. Prestamos nossas condolências à família. É difícil confortar alguém em um momento de perda como este. Mas cada um tem uma missão aqui na Terra, e conosco ele cumpriu de forma exuberante, exemplar. Desejamos que descanse em paz, seu espírito alcance o caminho que merece e ele fique com Deus.”
Homenagem do Bangu
O Bangu fez postagem se despedindo de Luís Alberto no Facebook do clube. Preparador físico de Luís Alberto no Tupi, Paulo Henrique “Lica” Toledo, filho do ídolo carijó Toledinho, destacou a passagem do treinador pelo Tupi. “Grande pessoa e profissional. Só tenho a agradecê-lo por todos os ensinamentos e amizade. E pela brilhante contribuição que deu ao futebol de Juiz de Fora e região. Era uma pessoa muito solidária e de um caráter incontestável. Que descanse em paz o grande guerreiro, e Deus dê o conforto à sua família”, deseja.
Criativo dentro e fora de campo
O fisioterapeuta Marco Aurélio “Dezoito” Del Papa dividiu com Luís Alberto todas as suas passagens no Tupi e é testemunha de sua capacidade como treinador. “É um cara fantástico. Aprendi muito com ele. Tínhamos uma sintonia muito grande. Como exemplo, tínhamos o Luisão (centroavante) e o Amarildo (ponta esquerda), um na área e outro para cruzar. Então, fechávamos o time, e a bola área era uma arma mortal. Bola no Amarildo, se houvesse pressão, ia no primeiro pau, e o Luizão ensacava. Chegando no fundo, ia no segundo, e o Luizão lá. Assim, ninguém sabia como marcar, e o Luizão foi artilheiro do Mineiro”, conta, falando sobre o Estadual de 1987.
Nos quilômetros pelas estradas de Minas, o papo rolava solto, como lembra: “Tinha histórias para contar. Virava, mexia, viajando ele contava do Bangu de 1966. Também falava muito de suas aventuras no Mundo Árabe. Jantares com sheik nos quais cérebro de carneiro era servido e ele se livrava comendo frutas. Certa vez, mandaram fazer morcego especialmente para o Luís. Chegou à mesa parecendo um charuto árabe. Perguntou o que era. Quando soube, caiu de joelhos dizendo ‘no, no, no christian, christian’. Segundo ele contava, foi uma confusão danada, mas o dono do jantar perdoou a recusa e não o fez comer a iguaria”, conta Dezoito, também destacando a amizade entre o ex-técnico e outra lenda carijó que faleceu, o eterno Danilo Batista.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: Facebook Bangu Atlético Clube; Agência O Globo; Facebook Ronald; reprodução Tribuna de Minas/Memorial Carijó; e reprodução Tribuna de Minas/arquivo pessoal Paulo Henrique Toledo
Luiz Alberto também foi técnico do volta redonda