Maior polêmica dos últimos dois anos no futebol mundial, o Video Assistant Referee (VAR) virou tema de um levantamento minucioso por parte de dois estudantes da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Henrique Justo, de 24 anos, e Iago Floriano, de 23, tiveram como objetivo investigar como o VAR e a tecnologia da linha do gol (GLT) influenciaram no andamento das partidas e no trabalho da equipe de arbitragem nas Copas do Mundo de 2014 e 2018.
A metodologia
Durante o trabalho, foram feitas análises das súmulas de todas as partidas dos Mundiais do Brasil e da Rússia e também de outros documentos disponibilizados pelo grupo de estudos técnicos da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e da International Football Association Board (IFAB). Em entrevista ao Toque de Bola, Henrique explicou como essa análise foi feita.
“Nós assistimos todas as partidas do árbitro argentino Néstor Pitana e do brasileiro Sandro Meira Ricci como componente amostral do nosso estudo e, a partir disso, conseguimos fazer uma comparação mais aprofundada dessas equipes de arbitragem com e sem o uso do VAR. Apuramos a origem dos gols, e, para isso, assistimos todos os gols das duas Copas, todas as intervenções do VAR na Copa de 18 para verificar o tempo e o motivo da paralisação e se essa intervenção foi para corrigir ou confirmar a decisão inicial do árbitro de campo”, explicou.
“Tem que levar a sério”
A ideia surgiu quando Henrique atuou como árbitro em competições regionais e percebeu que a arbitragem ainda é muito baseada no “achismo”. Segundo ele, uma conversa com Marcelo Van Gasse e Paulo César Zanoveli, árbitros formados em Juiz de Fora, também foi motivo para que o estudo fosse realizado. De acordo com os estudantes, a necessidade de aprimorar a qualidade da arbitragem no cenário do futebol brasileiro foi o motivo pelo qual eles, de fato, dedicaram-se à pesquisa.
“O futebol vem sendo tratado cada vez com mais seriedade e profissionalismo, e a arbitragem deve estar no mesmo nível. Por isso sentimos a necessidade de fazer ciência com esses dados e oficializar as informações. A arbitragem deve ser levada mais a sério e esse estudo foi nossa forma de tentar contribuir pra isso”, analisou Henrique.
Vale aguardar
Em tom de desabafo, os estudantes defenderam a utilização da tecnologia no futebol e afirmaram que a tendência é que todo o público envolvido com o esporte aceite e se adapte às mudanças promovidas.
“No nosso estudo, concluímos que o VAR, a GLT e as demais tecnologias que já foram implantadas no futebol e hoje são tidas como naturais (cartões, apito, bandeira eletrônica, spray) são eficientes e trazem mais imparcialidade para as partidas, garantindo maior justiça aos resultados. O VAR ainda é novidade, e toda novidade causa estranhamentos, mas a tendência é que esse recurso seja aprimorado e incorporado ao futebol naturalmente com o tempo, assim como já acontece no basquete, tênis, vôlei, entre outros. Vale ressaltar que, na nossa pesquisa, exploramos a maior competição de futebol do planeta, a Copa do Mundo. Os árbitros e jogadores são os melhores e mais bem preparados do mundo. No Brasil, o VAR ainda não vem sendo tão bem usado como deveria, como foi na Copa e como é na Europa. Sem profissionalização dos árbitros, treinamentos precários, cultura de violência e desrespeito por parte dos jogadores e torcedores, tudo isso dificulta o avanço desses recursos. Na presença do VAR temos a esperança de coibir certos comportamentos violentos dos jogadores. A princípio por medo de expulsão e punições posteriores, mas num segundo momento, porque esses comportamentos violentos não irão mais fazer parte da cultura do nosso futebol”, finalizou.
Confira abaixo os dados da pesquisa:
Texto: Toque de Bola – Pedro Sarmento, supervisão de Ivan Elias – Toque de Bola
Fotos: Matthew Childs/Reuters; Arquivo pessoal/Henrique Justo;