
Há 30 anos, o esporte de Juiz de Fora vivia um dia especial: em 30 de outubro de 1988, o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio abria suas portas pela primeira vez. Na programação, uma rodada dupla para ficar na história, começando com o clássico Sport x Tupi, seguido por Flamengo x Argentinos Juniors.
É memória fácil para os cerca de 60 mil presentes – um público estimado – o primeiro gol da história do Mário Helênio, marcado por Ronaldo, aos 20 minutos do segundo tempo, de falta. Mamão balançando as redes aos 32 minutos da segunda etapa e selando o triunfo do Periquito, por 2 a 0, sobre o Carijó, também não sai da cabeça de quem foi testemunha deste dia memorável.
Mais história
Mas, o primeiro jogo do Mário Helênio teve mais lances e histórias. Assim, para marcar os 30 anos de inauguração do Estádio Municipal, o Toque de Bola foi atrás de dois personagens daquela partida. Atletas que tiveram o privilegio de estrear o gramado do templo do futebol juiz-forano, viveram emoções e situações inusitadas, dignas de um clássico local para marcar o primeiro dia dos últimos 30 anos.

O ponta esquerda Ronaldinho Campos, pelo Tupi, e o goleio Nelson, pelo Sport, estiveram frente a frente no duelo de inauguração do Mário Helênio. Cada um a sua maneira, guarda histórias e memórias do clássico. Além disso, até mesmo um duelo pessoal entre os dois aconteceu, com vantagem para o arqueiro, o primeiro a deixar o gramado do estádio sem levar um gol em 90 minutos.
O primeiro
Vida de goleiro não é fácil mesmo. Nos últimos 30 anos, o gol de Ronaldo, em todo aniversário do Mário Helênio, é lembrado. As imagens da falta cobrada da intermediária, repetidas sempre. Mas, se a missão de quem está na linha é colocar a bola para dentro, a do goleiro é evitar.
Assim, tanto quanto o autor do primeiro gol, o único arqueiro a deixar o Estádio Municipal naquela tarde sem ser vazado, merece ser celebrado. “Fui abençoado de poder, primeiro, estar presente e jogando na inauguração. Segundo, por fazer meu trabalho direito e ser o único goleiro que deixou o campo sem levar gol naquele dia”, comemora Nelson.
Fresco na Memória
No desenrolar do jogo, o arqueiro, que além do Sport jogou também no Tupi e no Nacional de Muriaé, se lembra de uma intervenção que fez, afastando o perigo que rondava o gol do Periquito. “Lembro bem de um lance, ainda no primeiro tempo. Houve um cruzamento na área e pude sair socando a bola, afastando ela do gol. É minha principal memória da partida, além dos gols, que vi de frente, claro”, conta.

Do outro lado do duelo, Ronaldinho, ponta habilidoso e com rara batida na bola, relembra que teve a chance de marcar o primeiro gol do Mário Helênio, mas a sorte de Nelson – goleiro bom tem que ter – e o poste evitaram o feito. “Ainda no primeiro tempo tive a oportunidade de marcar o primeiro gol do Estádio. Bati uma falta no gol do lado da arquibancada, e a bola, de forma incrível, explodiu na trave”, lembra.
Partida peculiar
Além do ambiente já diferente do clássico, o Tupi x Sport da inauguração do Mário Helênio teve suas peculiaridades antes mesmo de a bola rolar. O Carijó disputava a Série C do Brasileiro, então o time titular e mais reservas estavam em Cabo Frio. Assim, uma nova equipe foi formada para o confronto com o Periquito.
É aí que entra Ronaldinho. O ponta, além de jogar no Carijó, atuou por Atlético-MG, América-RJ e Inter de Limeira-SP, mas já havia pendurado as chuteiras fazia quase dois anos quando veio o convite para jogar na inauguração do Mário Helênio. “Depois de ser campeão paulista em 1986, decidi, aos 25 anos, encerrar a carreira. Mas, para minha felicidade, houve essa coincidência de o Tupi estar em Cabo Frio. Tive a honra de ser chamado para integrar aquele time que pisou pela primeira vez no gramado do Estádio”, lembra o jogador que atuou ao lado de garotos e outros veteranos neste dia.

Relação íntima
Já os jogadores do Sport estava completamente em casa na nova área. Antes mesmo da abertura oficial do Mário Helênio, o elenco alviverde já frequentava seu gramado. “Pudemos fazer um mês de preparação física, pelo menos um dia por semana, usando o gramado do estádio. Assim, acompanhamos de perto o final da obras. Era uma inauguração bastante aguardada”, conta.
No fim, além do placar e das histórias daquele 30 de outubro de 1988, o que ficou foi a casa do futebol na cidade e a comemoração histórica. “Foi uma festa grande e merecida. O Mário Helênio é uma grande obra para o futebol de Juiz de Fora”, diz Nélson. “Acabamos perdendo o jogo, mas o que valeu foi a celebração e o patrimônio deixado para a cidade”, define Ronaldinho.
Teve isso também
Além do histórico Sport 2 x 0 Tupi, o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio recebeu na mesma tarde, como jogo de fundo da rodada dupla, o duelo amistoso entre Flamengo e Argentinos Juniors. A equipe carioca, então treinada por Telê Santana e ainda com Zico em seu elenco, levou a melhor.
O primeiro gol foi marcado por Bebeto, recebendo passe de Renato, logo no começo do jogo. O atacante argentino Pertisia deixou tudo igual. Mas antes do intervalo, Bebeto novamente marcou e deu a vitória ao time do Rio de Janeiro.
Sport 2 x 0 Tupi
Estádio Municipal Radialista Mário Helênio – 30/10/1988
Gols: Ronaldo (20min) e Mamão (32min) 2º tempo
Público: 60 mil presentes (estimado)
Árbitro: Maurílio José Santiago
Sport: Nélson; Edvaldo, Marquinho, André e Zé Maria; Deca, Guto e Mamão; Zebu, Aílton (Cazuza) e Ronaldo (Ronaldo Machado). Técnico: Geraldo Magela Tavares
Tupi: Ronald; Magno, Oscar, Borges e Marcelo; Wanderley (Waldir), Arlecy (Teófilo) e Ronaldinho; Serginho (Miguel), Amauri e Claudius. Técnico: Moacyr Toledo
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos com pesquisa auxiliar de Léo Lima
Fotos: arquivo pessoal Ronaldinho Campos, reprodução arquivo do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio e Toque de Bola