
Um bom início de segundo tempo – justamente o período do jogo fatal nas três primeiras rodadas – garantiu ao Tupi os três primeiros pontos no Campeonato Mineiro de 2018.
Com os 2 a 1 obtidos sobre a Caldense, na tarde de domingo, dia 28, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, o Carijó ainda não sai da lanterna, mas acredita ter encontrado a tranquilidade suficiente para consolidar a reação nas próximas rodadas – Villa Nova, dia 4, fora, e Patrocinense dia 10, sábado de carnaval, em casa, para evitar qualquer risco de rebaixamento – pelo regulamento, os dois piores na fase de classificação serão rebaixados.
Personagens
O atacante Renato Kayzer, emprestado pelo Vasco, era o mais emocionado após a partida. Último jogador a ter o nome publicado no BID da CBF na sexta-feira (às 17h40, quando o time treinava em Santa Terezinha), o atacante enfim estreou e foi decisivo. Lançado no intervalo, anotou o segundo gol, após receber passe de Vitinho, outro que entrou no início do segundo tempo. Após driblar o goleiro e tocar para o fundo do barbante, fez o tradicional “parado na esquina” (cruzou os braços na comemoração) e adiante, na coletiva, vibrou por poder, enfim, mostrar seu valor. Chegou a parar de falar e chorar, emocionado.
O técnico Alexandre Barroso admitiu o primeiro tempo ruim, mas preferiu enaltecer a importância dos primeiros pontos na competição. Disse que a equipe pagou, nas primeiras rodadas, por contar no elenco com jogadores que vinhem de muito tempo sem atuar, sem “lastro”, e que o segundo tempo das três partidas anteriores acabaria revelando essa falta de ritmo. Lembrou que, mesmo no triunfo, os minutos finais com pressão da Caldense demonstram que há espaço para muita evolução no condicionamento físico e técnico da equipe.
Como o Estadual agora passa a ter rodadas aos finais de semana, quem comemora é Tchô. O meia, principal nome do elenco para o Mineiro, admitiu que sua estreia seria somente neste domingo, contra a Caldense, mas acabou entrando antes como titular por necessidade da equipe.
Veja, abaixo, os principais trechos das entrevistas. Kayzer e Barroso falaram em entrevistas coletivas, para diferentes veículos..
Já o meia Tchô foi entrevistado pela Rádio Globo Juiz de Fora
Kayzer
“Fico feliz do Tupi ter aberto as portas pra mim, pela confiança da presidente, Nicanor (dirigente), Barroso (treinador), Ricardo (auxiliar técnico), enfim, toda a comissão técnica desde a pré temporada. Houve alguns problemas com a minha documentação e inscrição no campeonato que me deixaram de fora das primeiras partidas, o que me deixou muito triste. Acabei absorvendo um pouco da angústia que estava presa no nosso peito, mas graças a Deus conseguimos um resultado importante em casa e agora é subir na tabela. No primeiro tempo estávamos abafados com a pressão de ter que fazer o gol, e a gente conversou no intervalo, falou que as coisas não saem de qualquer jeito. O professor acertou nas substituições e fui feliz de ajudar o Tupi com o segundo gol e dar os três pontos para o clube.”
No intervalo já fez sua estreia e sendo decisivo para a vitória. Agora você está feliz? Já conseguiu se inscrever e estreou bem.
“Como eu falei, estava com uma angústia guardada dentro do peito e triste por não estar jogando, e não estar ajudando. Em casa eu ficava assistindo os jogos e ficava triste com os resultados negativos. Agora é trabalhar durante a semana porque na semana que vem já temos mais uma partida importante, como todas as partidas, pelo campeonato ser curto.”
Renato, depois do jogo você disse que o Kayzer está vivo. Para quem foi esse recado?
“Algumas pessoas vinham falando para mim que eu não conseguiria, porque eu não tive tanta oportunidade no Vasco. Eu venho carregando isso comigo toda manhã que eu levanto e olho para minha esposa e para a minha filha, tento tirar isso de motivação para mim. Quero agradecer minha família, que nunca desistiu de mim. Todos os dias eles olhavam para mim e viam meu rosto de derrotado, desacreditado, e eu estou muito feliz de estar no Tupi. Agradeço de novo por eles terem aberto as portas para mim e, se Deus quiser, vou crescer muito aqui dentro e mostrar que o guerreiro Kayzer ainda existe.”
Alexandre Barroso
“Essa é uma equipe que foi montada nos últimos 50 dias, na sua maioria com jogadores sem lastro. O que eu quero dizer é que os jogadores devem vir com 25, 30 jogos por ano, isso em um cenário ideal, e nós temos jogadores que fizeram um ou dois jogos no segundo semestre do ano passado.
Essa sequência de quatro jogos tem sido muito cruel para nós, que não temos tido o devido tempo de repouso, e evidente que é no segundo tempo que essa cobrança chega muito pesada. Vocês veem que nós fizemos quatro jogos e em nenhum deles viramos o primeiro tempo perdendo. Jogamos dentro das nossas limitações, mas jogamos de igual para igual com os nossos oponentes.
É o segundo tempo que realmente cobra muito de nós. No jogo de hoje (domingo) nós não fizemos um primeiro tempo bom, não criamos linhas de passe, nosso começo de criação sempre foi muito ruim. Estávamos com pouco poder de articulação, e é uma equipe que tem condições de marcar alto, marcar no campo do adversário, e não conseguimos fazer isso. Com a entrada do Kayser e do Vitinho nós conseguimos reverter esse quadro. Jogamos mais no campo do adversário, tivemos a transição da defesa para o ataque com mais velocidade e fizemos os gols.
Deliberadamente recuamos um pouco porque a Caldense nos dá o espaço necessário. Tivemos algumas entradas na diagonal, nas costas dos zagueiros que nos permitiam até ampliar o placar, o que infelizmente não foi possível. Evidentemente, vocês viram que essa falta de lastro nos cobrou muito nos 15 minutos finais. Com cinco minutos de acréscimo e um jogador a menos, acabamos tomando essa pressão da Caldense, que é natural. Hoje não precisávamos ser brilhantes, precisávamos de um grande resultado, por isso os três pontos têm uma conotação muito diferente dependendo das circunstâncias.”
O sentimento é de alivio?
“O sentimento não é só de alívio, porque se a gente fala que está aliviado fala que está descansado, e eu absolutamente não estou descansado, porque acho que essa é uma equipe que ainda tem muito pra dar.
Agora vamos entrar numa nova fase no campeonato, de jogos domingo a domingo, e isso é um fator que vai nos ajudar. Não quer dizer que vamos ganhar por causa disso ou perder por causa disso, mas é muito ruim você conviver com a pressão do resultado fora de casa, do resultado adverso em casa é pior ainda. O aspecto psicológico para esse grupo é muito bom, porque eles sabem que não fizeram uma grande partida, sabem que fizeram um segundo tempo razoável, mas isso me deixa tranquilo pois da mais espaço de manobra, espaço para melhorar, o que é muito bom para nós.”
O treinador é sempre contestado. Mas e quando ele acerta e acerta logo, que foi o seu caso, como é para o treinador ver que a mexida deu certo?
“Um dos grandes treinadores brasileiros, o Otto Glória, que treinou a seleção portuguesa na Copa do Mundo de 1966, dizia que quando o treinador erra, ele é uma besta, e quando ele acerta, é bestial, que é um termo mais do português de Portugal. O ônus de um resultado ruim é do treinador, porque isso é da nossa cultura, e não quer dizer que é certo, há todo um contexto.
A gente está vendo o jogo e percebendo, convivemos com os jogadores durante toda a semana e sabe aquilo que ele pode render. E ali o jogo estava clamando para a gente adiantar a marcação, jogar mais no espaço deixado nas costas dos laterais da Caldense e ter um pouco mais de contundência, que não tivemos com o João Vitor, não tivemos com o Tchô, não por serem jogadores desqualificados, mas sim porque o jogo pedia um outro momento.
Que bom que o gol do Rodrigo Dias teve assistência do Vitinho, e depois o outro gol do Kayser. Coroa um trabalho que fizeram durante a semana.
Tchô
Há uma tranquilidade maior pela vitória, Tchô?
“Sim. Tínhamos muitos atletas sem jogar, muitos estreando ainda no profissional. Nosso grupo realmente é um grupo em formação, por isso a gente sentiu tanto esse inicio de campeonato, mas acredito que agora nossa equipe sobre um pouco mais, pelo fato de só agora estarmos pegando o ritmo de jogo. Essa foi a minha maior dificuldade, fiquei sete meses sem jogar, treinei apenas uma semana antes da minha estreia, que inicialmente estava marcada pra hoje (domingo) contra a Caldense, e na verdade já fiz três jogos e senti bastante a parte física por estar há muito tempo sem jogar. Como eu disse, a tendência daqui pra frente é melhorar.”
A tendência é que a gente possa te ver em campo os 90 minutos no próximo jogo, tendo em vista que há uma semana de preparação até a partida?
“Exatamente. Foram três jogos encavalados que pesaram bastante para mim. A tendência agora é estar mais solto, ter uma semana inteira de treino que até agora eu não tive, treinei cinco dias até a minha estreia e já tive três jogos em uma semana.
Senti bastante isso, mas vim aqui sabendo das minhas responsabilidades, mas eu sabia que o Barroso iria me colocar antes do previsto pelo fato da minha experiência, pelo fato de poder ajudar em uma bola. Senti bastante a parte física, a dinâmica do jogo, mas agora a tendência é essa, as coisas melhorarem e eu estar mais solto no jogo e poder ajudar mais.”
O jogo
Após o pior início de sua história no Campeonato Mineiro, o Tupi, que colecionava três derrotas seguidas no Estadual, entrou pressionado no estádio Mário Helênio, diante da Caldense, e o primeiro tempo sem gols deixou o torcedor ainda mais apreensivo em Juiz de Fora.
O segundo tempo veio, e com ele, duas mudanças. Vitinho e o estreante Renato Kayzer entraram nas vagas de Tchô e João Vitor. As mudanças do criticado técnico Alexandre Barroso rapidamente surtiram efeito, e com participação dos dois atletas vindos do banco de reservas, o Tupi marcou dois gols em um minuto. No primeiro, Rodrigo Dias concluiu com oportunismo jogada da esquerda. No segundo, Vitinho faz um belo lançamento para Kayzer, que dribla o goleiro em velocidade e chuta para ampliar.
O gol contra de Welington, diminuindo para a Caldense, aos 38, e a expulsão de Pará (que entrara em lugar de Francesco), aos 44, quase impediram a primeira vitória do alvinegro juiz-forano, que veio após muito sufoco, para aliviar a tensão.
O jogo ficou aberto e tanto poderia sair o terceiro do Carijó como o empate dos visitantes. O Tupi não aproveitou bem os espaços deixados para os contra-ataques. A Caldense tentava o jogo aéreo. Aos 46, Villar espalmou cabeçada do zagueiro Robinho, da marca do pênalti. Aos 50, depois de escanteio da esquerda, Jonathan também de cabeça acertou a trave e o jogo terminou logo depois.
O resultado mantém o mandante na última posição, mas agora com a mesma pontuação de Boa Esporte e Democrata. O Pantera joga em casa nesta segunda-feira, dia 29, contra a URT em jogo que encerra a rodada às 20h30. A Caldense cai três posições, e ocupa o sétimo lugar na tabela.

Tupi 2×1 Caldense
Estádio: Municipal Radialista Mário Helênio
Tupi: Vilar, Afonso, Sidimar, Wellington e Patrick Brey; Léo Costa, Rodrigo Dias e Francesco (Pará); Tchô (Vitinho), João Vitor (Renato Kayser) e Reis. Técnico: Alexandre Barroso
Caldense: Omar, feijão, Marcelinho, Robinho e Jhonathan; Jean, Mineiro (Charles) e Potita; Juninho (Carlinhos), Anderson e Neílson (William Emmanuel). Técnico: Zezito.
Árbitro: Ronei Candido Alves (CBF) Auxiliares: Felipe Alan Costa (CBF) e Bernardo Pádua (FMF)
Gols: Rodrigo Dias, aos quatro minutos do 2º tempo, Renato Kayser, aos seis minutos do 2º tempo e Wellington (contra), aos 38 minutos do 2º tempo.
Cartões amarelos: Tchô, Patrick, Leo Costa e Reis (Tupi); Neilson (Caldense)
Cartão vermelho: Pará (Tupi), após dar uma cabeçada no adversário fora do lance de jogo, causando corte e sangramento.
Público pagante: 425
Público total: 699
Renda: R$ 7.785,00
Texto: Toque de Bola, com informações da Rádio Globo Juiz de Fora
Fotos: Caldense
Arte: Toque de Bola, com informações da Federação Mineira de Futebol