Se vivo fosse, o piloto brasileiro da Fórmula-1 Ayrton Senna teria completado 57 anos de idade na terça-feira, 21 de março. Entre os tantos fãs do ídolo nacional, está o repórter fotográfico João Schubert. A diferença dele para muitos dos simpatizantes é que, na cobertura, desde 1995, de Grandes Prêmios em Interlagos, na capital de São Paulo em outros palcos importantes da modalidade, como Mônaco, Montreal (Canadá) e Monza (Itália), Schubert vivenciou experiências interessantes, fruto da admiração mundial despertada pelo saudoso campeão das pistas.
Neste papo com o Toque de Bola, ele conta, com entrevista e fotos, algumas dessas experiências geradas pela idolatria por Ayrton Senna. Fala também sobre algumas questões de momento da principal modalidade do automobilismo, como a falta de perspectiva de um novo piloto brasileiro capaz de buscar o topo do pódio e as constantes tentativas dos dirigentes de resgatar parte da emoção das provas.
Confira o resultado.
Toque de Bola: O que Ayrton Senna representa para um apaixonado por Fórmula 1?
Schubert: Bem. Eu poderia ser fã do Piquet se tivesse nascido 10 anos antes, mas mesmo assim teria de reconhecer a grandiosidade do Senna pelos seus feitos. A frase que resume isso é: “Senna vencia com carros ruins, os outros não”… E quando teve a oportunidade de pilotar o melhor carro de F1 de todos os tempos que foi a McLaren MP4/4 (que ano que vem completa 30 anos) ele simplesmente deixou o Prost no chinelo com o mesmo carro…
Toque de Bola: De todo o material que tem específico do Ayrton Senna, qual ou quais acha mais simbólicos, raros ou especiais por algum detalhe curioso?
Schubert: Tenho uma das Superlicenças que “habilita” um piloto de automobilismo a correr na F1. Tenho um capacete original. Curioso é que eu nunca tive o boné azul do Banco Nacional… Tenho um novo que foi relançamento, mas na época eu nunca consegui o boné original.

Toque de Bola: Como vê os fãs de Ayrton Senna nas provas que teve a oportunidade de registrar em Interlagos e praças internacionais da Fórmula Um ao longo dos anos? Levam faixas, cartazes, camisas?
Schubert: Sim, tanto em Interlagos quanto em Mônaco, Montreal, Monza e todas as outras corridas que já fui pelo mundo, é lotado de fãs com camisas, bonés, bandeiras e qualquer tipo de material que lembre o Senna. Dois fatos muito legais que aconteceram comigo no GP de Mônaco de 2012 foram justamente por eu estar com o boné do (Banco) Nacional. Estava caminhando pela Avenue des Spelugues, e de longe vejo um guarda fazendo continência na minha direção, na mesma calçada que eu estava. E ele não parava de fazer a continência. Olhei para um lado, para o outro atrás e não entendia porque ele não parava. Quando ele viu que eu estava procurando o motivo, ele apontou pra mim e para o boné. Quase chorei (risos). A outra situação foi com o Jô Ramirez, que trabalhou com o Senna na McLaren. O vi dentro dos boxes (lá em Mônaco a visitação aos boxes é gratuita) e fiz sinal para ele vir fazer uma foto comigo. Claro que ele fingiu que não me viu. Então quando eu notei que ele estava olhando, apontei para o meu boné. Imediatamente ele veio abanando os braços como se dissesse que não poderia recusar o pedido… Ficamos batendo papo uns 15 minutos. Foi muito emocionante estar tão perto de alguém que foi amigo e trabalhou diretamente com o Senna.
(Nota da redação: o mexicano Joaquín Ramirez, mais conhecido como Jo Ramirez, era conhecido como confidente de Ayrton Senna quando coordenou a equipe McLaren. Trabalhou por várias equipes de F-1, como Tyrrell, Fittipaldi e na McLaren. De 1984 a 2001 usou sua imensa experiência para ser o coordenador do time que teve Alain Prost, Niki Lauda, Ayrton Senna, Mika Hakkinen como campeões.)
Toque de Bola: Houve quem acreditasse que os brasileiros deixariam de acompanhar a Fórmula um por não termos mais pilotos de ponta no País na modalidade. No entanto ainda hoje as provas são transmitidas pela TV aberta. A que atribui isso?
Schubert: Realmente muita gente parou de ver, muita gente mesmo, mas a F1 por si só já é um espetáculo, eu mesmo nunca deixei de acompanhar uma corrida mesmo depois da morte do Senna, simplesmente por ser louco por corridas.
Toque de Bola: E os pilotos brasileiros, qual a perspectiva de surgir outro talento, capaz de fato de buscar o título?
Schubert: Nenhuma perspectiva de ter outro brasileiro vencedor. E é bem possível que ano que vem não tenha nenhum brasileiro.
Toque de Bola: Como vê as tentativas dos dirigentes da modalidade em tentar tornar as provas mais emocionantes – este ano também estão anunciando novidades. Conseguirão mesmo proporcionar mais emoção?
Schubert: Podem fazer o que quiserem, mas se não voltarem com os motores barulhentos, a F1 vai continuar um balé.
(nota da redação – das agências: A temporada 2017 da Fórmula 1 começou na quinta-feira, 23, com a primeira sessão de treinos livres para o GP da Austrália às 22h30 (horário de Brasília). A TV Globo transmite o Q3 do treino classificatório na madrugada de sábado às 03h45 e a corrida no domingo às 02h).
Veja, abaixo, galeria de fotos enviadas pelo repórter fotográfico ao Toque de Bola.
Parênteses para a foto do piloto alemão Michael Schumacher. João conta a situação em que o registro foi feito:
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola
Fotos: João Schubert
Edição: Toque de Bola