“Vi Tostão no Barro Preto, no auge de seus 17 anos”

Juiz de Fora (MG), 25 de janeiro de 2011

O hoje articulista esportivo Tostão, também médico psiquiatra, foi um dos jogadores de futebol que mais me fizeram gostar do “velho e violento esporte bretão”, parafraseando o radialista Luiz Mendes. Vi-o pela primeira vez em ação no auge dos seus 17 anos em pleno estádio do Barro Preto, antigo campo do Cruzeiro, em 1963. O jogo era contra a Portuguesa de Desportos que, naquela época tinha um time de respeito, e ele, Tostão, era apelidado pelos cruzeirenses como um novo Pelé. O resultado do jogo foi um minguado zero a zero, mas o menino se destacou em várias jogadas, ajudado por craques como Hilton Chaves, Piazza, Dirceu Lopes, Brandão e Hilton de Oliveira.

No final da partida, os minguados torcedores atleticanos que haviam se deslocado até o campo naquele domingo chuvoso não pouparam os eternos rivais, perguntando a eles onde estava o novo Pelé. Pobres cegos que não haviam conseguido enxergar o magnífico futebol, cheio de malícia e inteligência da revelação americana (sim, porque o Cruzeiro o havia aliciado ao outro clube belorizontino).

Mais tarde, em 1969, João Saldanha, como técnico da seleção brasileira e verdadeiro artífice da conquista do tri de 1970, viria a dizer que Tostão era um dos raros jogadores que sabiam jogar sem bola, atraindo os adversários, permitindo que companheiros penetrassem livres para marcar gols, ou simplesmente devolvendo-lhe a bola para golear. Tanto o técnico tinha razão que, nas eliminatórias para a Copa de 70, Tostão foi o artilheiro, marcando a metade dos gols que todo o time registrou nos jogos. Sua inteligência no campo também serviu para que o Vasco conquistasse um título em apenas uma temporada que o mineirinho passou por São Januário.

Vitimado por uma bolada no olho esquerdo, rebatida pelo zagueiro Ditão, do Corínthians, ele teve um descolamento de retina, o que o obrigou a abreviar sua permanência nos campos, não sem antes ajudar – e muito – na conquista de um título mundial. Ainda está na lembrança de todos a jogada isolada dele no clássico contra a Inglaterra, quando, depois de driblar três adversários, passou a bola para Pelé servir, magnificamente, o furacão Jairzinho marcar o gol da vitória.

Hoje Tostão nos brinda com seus artigos inteligentes em diversos jornais de circulação nacional, onde analisa com inusitada maestria os intrincados meandros dos bastidores do futebol, seus mistérios e também as muitas tramóias armadas por cartolas que insistem em tentar acabar com o brilhantismo desse esporte no Brasil. Por isso, diante da passagem de mais um aniversário (nasceu em 25 de janeiro de 1947) desse mestre da bola e das letras, não podia deixar ficar em branco, nos meus registros, essa data.

Texto: Ronaldo Dutra Pereira (especial para o Toque de Bola)

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